A apresentação do documentário “The Lost Tomb of Christ” (A tumba perdida de Cristo), que pretende mostrar a verdadeira tumba de Jesus, foi qualificado por um grupo de líderes eclesiais cubanos como um negócio midiático.
O secretário da Comissão Bíblica do Conselho de Igrejas de Cuba (CIC), reverendo José López, qualificou o fenômeno como um bom “tema jornalístico que dá muito dinheiro”. Ele recordou que, simultaneamente aos ventos da Quaresma, sempre aparecem especulações em torno do milagre da Ressurreição, a exemplo do que ocorreu no ano passado com o “descobrimento” do chamado Evangelho de Judas, que tantas apologias e condenações subiu aos púlpitos no mundo.
Questionado se o tema diz respeito a um fenômeno de incredulidade ou morbidade humana, o reverendo da Igreja Presbiteriana-Reformada de Cuba, Héctor Méndez, disse que num mundo em que a publicidade e o dinheiro caminham juntos tratar desta maneira um assunto tão sensível e importante para milhões de pessoas torna-se um negócio claro.
“Não creio que seja tão importante a questão histórica ou a questão filosófica, religiosa, intelectual, mas me inclino a crer que ela responde a um momento em que, dadas determinadas circunstâncias, o ser humano se aproxima de tudo aquilo que diga algo no âmbito espiritual, ainda que possa estar errado ou carente de valor. Essa é parte da busca e a agonia existencial do ser humano hoje”, enfatizou.
O reverendo e pastor batista Francisco Rodés argumentou que “que essa corrente, na qual se inclui o Código Da Vinci e o Evangelho de Judas (ainda que este último esteja mais solidamente estabelecido) não são mais do que uma manipulação sensacionalista das editoras que procuram a venda milionária ante um público alienado, herdeiro da tradição ocidental cristã e que vive na pós-modernidade ávida de mistério”. É a contrapartida do manto sagrado de Turim e de tantas outras relíquias que o cristianismo histórico adotou para tratar de convencer os incrédulos, acrescentou.
Ao contribuir para o debate, o reverendo Raimundo García Franco, diretor do Centro de Reflexão e Diálogo de Cárdenas, na província de Matanças, disse a notícia da possível aparição do corpo de Jesus Cristo nada surpreende, porque o negócio em relação ao Messias começou com Judas Iscariote e foi se multiplicando de tal forma que são muitas as instituições e pessoas que traficam com qualquer coisa que tenha a ver com o tema, seja por ignorância ou má intenção.
O documentário “A tumba perdida de Cristo”, segundo a tradução para o português, foi transmitido pela Discovery Channel no dia 4 de março, nos Estados Unidos, e produzido por James Cameron, o afamado diretor de Titanic.
Durante conferência de imprensa realizada na cidade de Nova Iorque, no final de fevereiro, os produtores do documentário apresentaram dois ossários pertencentes, pretensamente, a Jesus Cristo e a Maria Madalena.
A tese do filme diz que existem dez ossários antigos, descobertos nos subúrbios de Jerusalém em 1980, nos quais estariam os restos do Mestre e de sua família. Na coletiva foi dito que um desses ossários continha a inscrição “Judá, o filho de Jesus”, o que sugeria que o autor do milagre da Ressurreição pôde ter tido descendência.
Rodés, em suas palavras finais, relacionou dois assuntos que podem conter a essência deste novo escândalo midiático: “Jesus continua sendo o que, depois do véu de dois mil anos, convoca-nos ao discipulado, ao amor e à paz… Não me cabe a menor duvida que nenhum arqueólogo sério se arriscaria a tanto. Mas o dinheiro faz o mudo cantar”, disse.
Fonte: ALC