Pessoas religiosas estão mais satisfeitas com suas vidas do que os não-crentes. No entanto, um novo estudo descobriu que não é um relacionamento com Deus que deixa os devotos felizes. Na verdade, o aumento de satisfação pode vir de laços mais estreitos de amizade com outros fiéis.
Um estudo intitulado “Religion, Social Networks, and Life Satisfaction” [Religião, Redes Sociais e Satisfação de vida] foi publicado este mês pela revista American Sociological Review. Em resumo, aponta que pessoas religiosas são mais satisfeitas com a vida, graças às redes sociais que constroem ao frequentar os cultos. Os resultados se aplicam tanto a católicos quanto a evangélicos.
Entre os entrevistados, o número de judeus, mórmons, muçulmanos e pessoas de outras religiões era pequeno demais para chegar-se a conclusões. É o que afirma o pesquisador Chaeyoon Lim, sociólogo da Universidade de Wisconsin-Madison.
“Nós mostramos que [satisfação com a vida] é quase inteiramente devido ao aspecto social da religião, não por questões espirituais e teológicas”, disse Lim à Live Science. “Descobrimos que as pessoas ficam mais satisfeitas com suas vidas quando vão à igreja porque construiram uma rede social dentro da congregação.”
A felicidade é um banco de igreja lotado
Muitos estudos apontaram uma ligação entre a religião e a felicidade, mas todas as pesquisas enfrentavam um dilema do tipo “quem gera o quê?”, disse Lim. A religião torna as pessoas felizes, ou as pessoas felizes é que se tornam religiosas? E se a religião é a causa dessa satisfação, qual o maior responsável: a espiritualidade, as relações sociais ou algum outro aspecto da religião ?
Lim e seu colega Robert Putnam, pesquisador de Harvard, abordaram duas questões com o estudo. Em 2006, contataram por telefone um grupo selecionado e representativo de 3.108 adultos norte-americanos e perguntaram-lhes sobre suas atividades religiosas, suas convicções e redes sociais. Em 2007, ligaram para o mesmo grupo e 1.915 deles aceitaram responder novamente às mesmas perguntas.
As pesquisas mostraram que as pessoas religiosas, de todos os credos, são mais satisfeitas do que as pessoas não-religiosas. Segundo os dados levantados, cerca de 28% das pessoas que participam de uma reunião religiosa semanal estão “extremamente satisfeitas” com sua vida, em comparação com 19,6% de pessoas que não frequentam cultos.
No entanto, a satisfação não foi atribuída pelos entrevistados a fatores como a oração individual, a força da fé, sentimentos subjetivos de amor ou a presença de Deus. Em vez disso, a satisfação estava ligada ao número de amigos e pessoas próximas que estavam em sua congregação religiosa. Pessoas com mais de 10 amigos em uma igreja eram quase duas vezes mais satisfeitas que pessoas sem amigos na congregação.
Os amigos da igreja são especiais ?
A importância do estudo é que ele sugere um nexo de causalidade entre a religião e a satisfação com a vida, resume Lim. As pessoas entrevistadas que começaram a visitar a igreja com maior frequência no intervalo entre as pesquisas de 2006 e 2007, tornaram-se mais felizes. Mais uma vez, a felicidade era totalmente explicada pelo aumento nas amizades feitas na igreja local.
“Achamos que isso tem a ver com o fato de que você encontrar amigos íntimos com frequencia regular, estarem juntos e participar de certas atividades importantes para o grupo”, afirma Lim. “Ao mesmo tempo, eles partilham uma certa identidade social, um sentimento de pertencer a uma comunidade moral de fé. O sentimento de pertencimento parece ser a chave para a relação entre frequencia à igreja e satisfação com a vida.”
Embora um maior número de amizades fora da igreja também esteve associados à satisfação, as amizades dentro da igreja parecem envolver algo que gera uma satisfação ainda maior. A pesquisa adicional de Lim e Putnam, registrada no livro American Grace: How Religion Divides Us and Unites Us [Graça Americana: Como a religião nos divide e nos une] (editora Simon & Schuster, 2010), observou que a propensão maior dos religiosos para a caridade e voluntariado também estava ligada às amizades dentro da igreja.
Teoricamente, disse Lim, pertencer a um grupo qualquer de amigos que se envolve em atividades significativas e compartilha uma identidade social também aumenta o nível de satisfação com a vida. Em 2011, os pesquisadores planejam realizar uma terceira etapa dessa pesquisa, contatando o mesmo grupo de participantes das primeiras. Eles esperam também coletar dados sobre os grupos de amizade fora da igreja.
Embora o foco principal da pesquisa seja o nível de satisfação com a vida, os pesquisadores concluíram ainda que:
* Entre um terço e metade dos casamentos americanos são de pessoas de religiões diferentes;
* Cerca de um terço dos americanos mudou de religião em algum momento da vida;
* Os jovens se opõem mais ao aborto que seus pais, mas aceitam com mais naturalidade o casamento gay;
* Mesmo os americanos mais religiosos acreditam que pessoas de outras religiões vão para o céu;
* Religiosos americanos são mais generosos para doar seu tempo e dinheiro independentemente da causa, do que os não-religiosos.
Fonte: LiveScience / Gospel+
Traduzido por Jarbas Aragão
Via: Pavablog