A revista Nature publicou um estudo, realizado pela Universidade de Georgetown, indicando que há indícios que apontam que a fé em Deus está diretamente ligada ao cérebro, e a maneira que essa evidência foi encontrada é surpreendente.
Em Hebreus 11:1 na Bíblia, a fé é descrita como “a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos”. O estudo realizado por neurocientistas podem estar próximo de comprovar, academicamente, a compreensão espiritual sobre o tema consagrada há milênios no Novo Testamento.
O estudo “Implicit pattern learning predicts individual differences in belief in God in the United States and Afghanistan” (“Aprendizado de padrões implícitos prevê diferenças individuais na crença em Deus nos Estados Unidos e no Afeganistão”, em tradução livre) publicado este mês na revista Nature Communications traz um relatório sobre as descobertas dos neurocientistas a respeito da capacidade de um indivíduo de prever inconscientemente padrões complexos, por meio de uma habilidade conhecida como padrão implícito aprendizagem.
De acordo com informações do portal The Christian Post, os padrões descobertos possuem uma forte correlação com a força da crença dos indivíduos que participaram do estudo em um Deus que cria padrões de eventos no universo.
“Este não é um estudo sobre a existência de Deus, é um estudo sobre por que e como os cérebros passam a acreditar em deuses. Nossa hipótese é que as pessoas cujos cérebros são bons em discernir inconscientemente padrões em seu ambiente podem atribuir esses padrões às mãos de um poder superior”, disse o pesquisador que coordenou o estudo, Adam Green, professor associado do departamento de psicologia e programa interdisciplinar em neurociência na Universidade de Georgetown.
O estudo envolveu um grupo predominantemente cristão de 199 participantes de Washington, DC, e um grupo de 149 participantes muçulmanos em Cabul, no Afeganistão. Esse é o primeiro de seu tipo a explorar a crença religiosa por meio do aprendizado de padrões implícitos.
Adam Weinberger, pesquisador de pós-doutorado no laboratório do professor Green em Georgetown e na Universidade da Pensilvânia, foi o principal autor do estudo. Os coautores Zachery Warren e Fathali Moghaddam lideraram uma equipe de pesquisadores afegãos que coletou dados em Cabul.
Para medir a capacidade de aprendizagem de padrão implícito dos participantes do estudo, os pesquisadores usaram um teste cognitivo bem estabelecido no qual eles tiveram que assistir uma sequência de pontos aparecer e desaparecer rapidamente na tela do computador.
Eles apertaram um botão para cada um dos pontos em movimento, mas alguns participantes do estudo – aqueles que registraram a capacidade de aprendizagem implícita mais forte – começaram a aprender subconscientemente os padrões ocultos na sequência. Eles apertaram o botão dos pontos antes de eles aparecerem.
Mesmo os melhores aprendizes implícitos no estudo não sabiam que os pontos formavam padrões que demonstravam que o aprendizado havia acontecido em um nível inconsciente.
O estudo mostrou que, mesmo entre as crianças, aqueles com capacidade de aprendizagem de padrão implícito eram mais propensos a aumentar a fé em Deus, mesmo que tivessem sido criados em uma família que não fosse religiosa.
“O aspecto mais interessante deste estudo, para mim, e também para a equipe de pesquisa afegã, foi ver padrões nos processos cognitivos e crenças replicados nessas duas culturas”, disse Warren. “Afegãos e americanos podem ser mais parecidos do que diferentes, pelo menos em certos processos cognitivos envolvidos na crença religiosa e na construção de significado do mundo ao nosso redor. Independentemente da fé de alguém, as descobertas sugerem percepções interessantes sobre a natureza da crença”, acrescentou.
Green entende que outros estudos a partir dessa descoberta são necessários para que se obtenham maiores informações, mas o que se descobriu abre um amplo leque de possibilidades para a ciência: “Um cérebro que é mais predisposto ao aprendizado de padrões implícitos pode estar mais inclinado a acreditar em um deus, não importa onde no mundo esse cérebro se encontre, ou em que contexto religioso”.