Julho de 2006. Sem forças e prostrada no altar da igreja do Nazareno de Campinas, a publicitária Isabela Narducci Tucci, de 32 anos, carrega no ventre um bebê de 5 meses e no seio um câncer. As lágrimas banham as pedras de mármore e as paredes silenciosas são as únicas testemunhas da dor e do medo daquela mãe que, apesar de estar grávida pela segunda vez, não chegou a embalar o primeiro filho. Ela teve um aborto com cinco meses.
Sozinha naquele mar de bancos vazios — naquele dia o País parou, não em solidariedade à sua dor, mas para assistir ao jogo do Brasil na Copa do Mundo — ela clamou: “Jesus, eu pedi um bebê. Mas não quero uma filha sem mãe, ou uma mãe sem a filha. Por favor, me dê a oportunidade de ver minha filha. Não deixe que eu morra ou que ela morra”.
Por cerca de 30 minutos, esse foi o desabafo da publicitária, que lembra uma outra história bíblica, a de Ana. Sem poder ter filho, ela também foi até o templo pedir a Deus que lhe desse o prazer de segurar em seus braços um rebento do seu ventre.
Cansada, Isabela levantou-se e sentou-se em um dos bancos da primeira fila. Assim como Ana, ela queria uma resposta.
“ É difícil para as pessoas entenderem, mas eu queria ouvir Deus falar comigo. O medo da morte era muito doloroso”. Recorda a publicitária Isabela Narducci Tucci
No silêncio e de forma simbólica, a mãe desesperada recebeu uma resposta. Ao olhar para cima do altar, a frase “Eu sou El-Shadai. Deus Todo-Poderoso” foi o seu remédio. “Era o que precisava naquele momento.”
Abril de 2007. O choro desta vez não é de dor. Mas de alegria. Livre do câncer, Isabela abraça Helena, sua filha de 7 meses. Depois de enfrentar um calvário — que teve feridas físicas e psicológicas —, exibe a pequena como um troféu conquistado por meio de muita oração e pela certeza de que as palavras bíblicas que prometiam vida longa e ajuda na adversidade não representavam apenas um texto frio, mas algo que poderia ser real em sua vida.
Martírio
O martírio da publicitária, que é evangélica desde os 24 anos, começou em julho de 2006, quando começou sentir dores em um dos seios. Despreocupada, nem suspeitou que pudesse estar com a doença. Fez os exames e, ironicamente, no dia em que soube que tinha um câncer, também ficou sabendo que esperava uma menina. Seu mundo caiu.
O tumor não era nada pequeno. Com nove centímetros, era lembrado a todo instante. Não havia saída. Isabela teria que passar por quimioterapia. Antes de pensar em si, a publicitária ficou apavorada, com medo de o medicamento prejudicar o desenvolvimento de sua filha. “Não suportaria perder um segundo filho. Eu punha a mão na barriga e orava ao Senhor: Jesus, é ‘sangueterapia’ e não quimioterapia; torne a minha placenta dez vezes mais potente”, conta a publicitária chorando, relembrando a dor, sua companheira constante durante alguns meses.
De forma escandalosa e sem nenhum pudor, os primeiros sinais da doença se tornaram visíveis. No lugar dos longos cabelos castanhos de Isabela — uma jovem bonita, de olhos esverdeados e vivazes — apareceram os lenços coloridos. O aniversário de três anos de casamento foi comemorado dentro de uma sala de quimioterapia.
Como em toda situação de guerra, havia um plano. A estratégia era fazer quatro quimioterapias e induzir o parto para que Helena nascesse com 32 semanas. Em uma situação normal, a gestação pode durar entre 40 e 42 semanas. Para tentar retardar o nascimento, Isabela teve que passar 20 dias dentro de um hospital. Porém, nem a mãe e nem o bebê agüentaram. No dia 7 de setembro, a garotinha nasceu. Com apenas 1.580 gramas, a pequena teve que ser encaminhada à Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).
Nascimento
Assim que Helena nasceu, Isabela foi para o centro cirúrgico retirar o câncer que estava alojado em seu seio. Amamentar nem pensar. Mas tudo bem. Esse era um problema pequeno.
Mesmo fraca e com dreno, ainda careca, Isabela se recusava a sair do lado da filha. Foi companheira constante de Helena durante 20 dias de UTI. “Eu tinha medo de morrer e deixar ela. Senhor muda a minha história”, rezava ela, convicta de que iria receber a graça pedida, sempre alicerçada nos últimos versículos do Salmo 91.
Em outubro, as duas deixaram o hospital. Helena nasceu pequena, mas perfeita. Isabela ainda tinha uma outra batalha a vencer. Fez 30 radioterapias e no dia 19 de dezembro de 2006, tomou a última quimioterapia.
No mês passado fez um exame — chamado de pet-ct, que pode detectar com precisão de até 99% se há presença de células malignas no organismo — e o resultado não poderia ser melhor: estava curada. O anúncio foi dado na sala em que ela havia sido informada que estava doente. “Foi um milagre. Não conheci Deus apenas de ouvir falar, mas somos provas do que Jesus pode fazer”, alegra-se.
A história de Helena volta novamente para o altar onde tudo começou. Só que desta vez, ao invés do choro solitário, o que se vê é um choro coletivo dos fiéis embalado pela história de superação de uma menina que quis viver e de uma mãe que lutou e acreditou numa fé que já havia dado um filho a uma estéril, Ana — mãe de Samuel. Os planos futuros? Apenas ver Helena crescer.
Fonte: Cosmo Online