Conforme ia caindo ao chão, após tomar um tiro e ser golpeada com um facão, Dune James Rike olhou para os olhos marejados e amedrontados de seu marido e perguntou: “Este será o fim entre nós? Então não estaremos mais juntos?”
O pastor Musa James Rike contou à Compass que segurou as mãos de sua esposa de 35 anos de idade, enquanto ela morria, e lhe disse: “Apegue-se à sua fé em Jesus, que nós nos encontraremos e nunca mais nos separaremos.”
Muçulmanos extremistas que atacaram a vila Kurum, na área governamental de Bogoro, estado nigeriano de Bauchi, já haviam matado duas crianças do casal num tumulto que teve início na quarta-feira, dia 4 de maio, à meia-noite. Rike, pastor da Igreja de Cristo na Nigéria (COCIN, sigla em inglês), congregação em Kurum, em seguida ouviu os gritos de sua filha de 13 anos de idade, Sum James Rike, numa área próxima.
“Eu corri em direção a minha filha, somente para descobrir que ela também havia sido golpeada no estômago com um facão e seus intestinos estavam espalhados ao seu redor”, ele disse. “Eu segurei sua mão e comecei a orar, sabendo que ela iria morrer também. Ela me disse que os militantes muçulmanos lhe disseram que iriam matá-la, para ver ´como seu Jesus vai te salvar.’”
A garota disse a seu pai que lhes respondeu, dizendo que Jesus já a havia salvado e que, matando-a, eles só tornariam possível seu encontro com ele. O pastor Rike orou por ela, enquanto agonizava.
Atirando e ateando fogo às casas, os extremistas muçulmanos mataram outros 12 cristãos nesse ataque. A polícia de Bauchi relatou 16 mortos: um homem, três mulheres e 12 crianças.
O pastor Rike disse que, ao alcançarem sua casa, os agressores tentaram entrar nos quartos. “Eu abri a porta dos fundos e nós corremos pela noite escura, enquanto os militantes nos perseguiam,” ele disse. “Eles atiraram na minha esposa e em dois de nossos filhos, enquanto tentavam escapar.”
O pastor Rike disse que, após matarem as duas crianças, Faith James Rike e Fyali James Rike, de um ano de idade, cortaram a barriga de sua mulher com um facão.
“Fiquei chocado com o que vi”, ele disse. “Eu sabia que minha mulher não aguentaria e a única coisa que fiz foi encorajá-la a apegar-se à sua fé em Jesus. Os extremistas muçulmanos atearam fogo em mais de 20 casas antes de deixarem a vila”, ele disse.
O pastor Rike e seu filho sobreviveram ao ataque, mas sua filha adotiva, Whulham Rike James, foi ferida e estava recebendo tratamento no Hospital Geral de Bogoro. Disse também que outras cinco pessoas estavam sendo atendidas no mesmo hospital.
Algumas fontes da igreja disseram que entre os mortos estão: Murna Ayuba, Angelina Ezekiel, Dorcas Sunday, Asabar Toma, Rhoda Joseph, Dhunhgwa Zakka, Bukata Amos, Ishaku Amos, Kalla Amos, Amos Daniel, Samidah Joel e Changtan Joel.
Os muçulmanos jihadistas também roubaram dinheiro e outras coisas de valor da vila cristã, enquanto iam embora, segundo essas fontes da igreja.
A região
A área tem uma história de violência e os ataques se seguem à morte de centenas de pessoas em Bauchi e outros estados do norte, onde, no mês passado, houve revoltas dos muçulmanos por causa da eleição de 16 abril, que elegeu um presidente cristão, Goodluck Jonathan. Ele venceu o candidato muçulmano Muhammadu Buhari. Líderes cristãos do norte da Nigéria disseram que mais de 200 igrejas foram queimadas e que eles têm convocado uma sindicância federal sobre a violência, em que os cristãos são o principal alvo.
O norte da Nigéria subiu de 27º, em 2009, para 23º lugar, em 2010, na posição da lista da Portas Abertas de classificação de nações intolerantes ao cristianismo.
A igreja em que o pastor Rike ministra tem por volta de 30 membros e existe há mais de 50 anos. Os que foram assassinados eram membros das três igrejas da vila – a igreja COCIN, a Igreja Católica de São João e uma congregação da Igreja Evangélica do Oeste da África.
O pastor Rike disse que o incidente fortaleceu sua fé em Jesus.
“Qualquer que seja a situação, eu nunca negarei a Cristo,” disse. “Todos os seres humanos foram criados por Deus e aqueles que nos atacaram precisam entender que devem abandonar qualquer coisa que os leve a destruir as criaturas de Deus.”
A população da Nigéria é superior a 158,2 milhões de pessoas e quase que igualmente dividida entre os cristãos, que somam 51,3% da população e vivem principalmente no sul, e os muçulmanos, que somam 45% da população e vivem principalmente no norte. As porcentagens podem ser menores, entretanto aqueles que praticam religiões locais talvez estejam acima de 10% do total da população, de acordo com a Operation World.
Fonte: Portas Abertas