Não existe pecado no aborto, nas experiências médicas com células-tronco embrionárias nem no homossexualismo — mesmo entre padres, desde que usem camisinha. As mulheres devem ser livres para decidir sobre o seu corpo e seu destino. Esta é a síntese da cartilha defendida e propagada por um dos grupos religiosos mais ativos e organizados do país, o Católicas pelo Direito de Decidir (CDD). Formada por militantes feministas cristãs, dissidentes das encíclicas e de outros documentos elaborados pela cúpula da igreja e interpretados pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a organização não-governamental (ONG) reza pelo catecismo da chamada Teologia da Libertação, a corrente defenestrada à base de pressão e punições pelo Vaticano.
A entidade faz parte da Jornada pelo Direito ao Aborto Legal e Seguro, um movimento também feminista que articula militantes em defesa dos direitos das mulheres de várias religiões, partidos políticos, ativistas em defesa das minorias em geral. É parceira do LGBTTI, grupo de defesa das Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e até dos chamados Intersex, pessoas que nascem com características físicas masculinas e femininas, ainda hoje classificados como hermafroditas nas aulas de biologia. A mudança da sigla, originalmente GLTB, com a letra L de lésbicas passando para a frente, é mais uma atitude feminista do CDD.
Proibições do Vaticano assustam as militantes da ONG porque, segundo as coordenadoras, deixa a vida das pessoas em jogo. “Pode-se afirmar a defesa da vida e ignorar milhões de pessoas que morrem, no mundo todo, vítimas de doenças evitáveis, como a Aids? Seguir condenando o uso de preservativos que salvariam tantas vidas, numa brutal indiferença à tamanha dor?”
A ONG conhece e auxilia vários religiosos homossexuais, com quem debate seus temas polêmicos. “Pode-se afirmar a defesa da vida e eliminar a beleza da diversidade humana, com atitudes e discursos intolerantes em relação a expressões livres da sexualidade humana, condenando o relacionamento amoroso entre pessoas do mesmo sexo?”, indaga. Logo depois da visita do papa Bento XVI ao Brasil, no ano passado, o grupo encomendou pesquisa ao Ibope, que entrevistou 2002 pessoas em 141 cidades sobre métodos anticoncepcionais, prevenção da Aids, aborto legal nos serviços públicos, Estado laico e circunstâncias nas quais se admite a realização do aborto.
Fonte: Rede Melodia