Os fiéis presentes aos cultos de ontem na Igreja Evangélica Apostólica Renascer em Deus do Cambuci (região central) afirmaram que a prisão do casal de pastores Sônia e Estevam Hernandes não abalou em nada sua crença na religião.
“Venho aos cultos pelas graças que eu alcancei, pelo que aconteceu comigo e eu vivenciei, e não por causa de coisas que me disseram ou que eu li nos jornais”, diz a dona de casa Elizabeth (nome fictício), 34, sentada na segunda fila do principal templo da igreja, na rua Lins de Vasconcellos.
Outras fiéis acomodadas por perto concordam com a cabeça.
Foram dois cultos ontem, um às 18h, outro às 19h30. No primeiro, havia em torno de 60 pessoas no templo, cuja capacidade é de cerca de duas mil.
Praticamente aos gritos, pastora Orliene prega: “Mesmo quando há apenas três pessoas, gente, pode acreditar, Cristo está ali! Amém!”.
Entre uma assertiva e um conselho, ela cita o nome da pastora Sônia e do marido, defendendo-os. “O Estêvão [primeiro mártir cristão] foi apedrejado, São João Batista teve a cabeça cortada, mas nós continuamos aqui porque Jesus sabe a verdade”, ela diz, num tom crescente, após recolher os envelopes com as doações.
O momento parece delicado: “Quanta porcaria, com o perdão da palavra, tem sido oferecida por aí, quanto prato de lentilha. Aqui, não! O alimento é de verdade. Não há engano, não há roubo, só entrega”, afirma.
Um presbítero (cargo logo abaixo do de pastor) aproxima-se querendo saber as intenções da reportagem, e informa que no dia anterior dois jornalistas foram retirados do templo, revistados e presos.
“Tenho a informação de que o sr. é jornalista. Olha, eu sou policial e digo: o artigo 15 nos autoriza a chamá-lo para fora do templo, revistar sua bolsa e limpar fitas gravadas e confiscar filmes.”
No palco, pastora Orliene usa com insistência a palavra “limpeza” (referindo-se à alma, ao espírito). Apesar do tom impositivo, Orliene precisa recorrer a Jesus para explicar por que continua pregando depois do escândalo recente.
Ela afirma: “Jesus também foi perseguido, execrado, crucificado. Eu me senti tocada por Ele há vinte anos, e o instrumento foi a Sônia, por quem tenho a maior admiração.”
Fora do templo, a desempregada Daniela, 30, diz que já doou muito dinheiro para a igreja, mas não se sente lesada ao imaginar que sua doação pode ter servido para financiar mansões ou haras. “Não penso nisso, porque eles fizeram muita benfeitoria nos templos.”
Fonte: Rio Preto News