A disposição do bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, 61, de manter o jejum contra a transposição das águas do rio São Francisco, começou a provocar divisões na Igreja Católica.
Em nota enviada ao religioso, o arcebispo metropolitano da Paraíba, dom Aldo Pagotto, criticou o protesto e disse que ninguém tem o direito de tirar a própria vida “a qualquer título”. Pagotto pede ainda a Cappio que “reveja a sua posição quanto à revitalização e à integração das Bacias Hidrográficas do rio São Francisco”.
No documento, o arcebispo lembra que, dois anos atrás, quando Cappio realizou a primeira greve de fome contra o projeto, a nunciatura apostólica no Brasil, que representa o papa, pediu em carta que ele “desistisse dessa conduta”.
Pagotto, que preside o Comitê Paraibano pela Integração das Bacias Hidrográficas do Rio São Francisco, afirmou também que não compete aos bispos intervir no “planejamento técnico-científico e na gestão administrativa e econômica” da transposição.
Entretanto, ele declara, na nota, que os “bispos e o povo da Paraíba e dos demais Estados pleiteantes” apóiam o projeto. E ainda justifica a razão: “Quem tem sede apóia a obra”.
Cappio, que completou na manhã de hoje sete dias de jejum, respondeu ao arcebispo. Reafirmou, em carta, estar disposto a manter o protesto “até o fim”. Segundo ele, sua greve de fome “é um gesto pessoal, mas de significado coletivo”.
O bispo afirmou que o seu comportamento é coerente com a sua trajetória de franciscano e declarou que a nunciatura apostólica apenas “pediu” para que ele encerrasse o primeiro protesto –o que, em 2005, ocorreu após 11 dias de jejum.
O religioso manteve sua posição contrária ao projeto, que, segundo ele, beneficiará apenas o “hidronegócio”. A transposição, disse ele ao arcebispo paraibano, “não vai trazer verdadeiro desenvolvimento”.
Cappio protesta na igreja de São Francisco, em Sobradinho (BA). O local vem se tornando ponto de romaria de religiosos da região. Pelo menos nove mulheres jejuavam ontem, temporariamente, em solidariedade.
Ontem, pela segunda vez, o bispo foi examinado por um médico. Seu estado de saúde foi considerado bom. Ele foi pesado e, em sete dias sem comer, perdeu dois quilos. Passou de 72 kg para aproximadamente 70 kg. Na primeira greve de fome, ele perdeu quatro quilos depois de 11 dias.