A reprodução “natural”, pelo batismo e a integração dos descendentes, não garante mais a continuidade da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). Se ela quiser crescer, vai ter que atrair pessoas de fora e integrá-las nas suas comunidades.
O recado foi do ex-secretário-geral da IECLB, pastor Gerd Uwe Kliewer, em palestra sobre o auxílio da estatística no esforço missionário, proferida na quinta-feira, 17 de maio, durante a Semana Acadêmica da Escola Superior de Teologia (EST). Kliewer disse que a igreja deve manter uma identidade luterana clara e reta, e combater a teologia de que “Deus é um só”.
Na sociedade atual, afirmou Kliewer, as pessoas são ensinadas a optar e escolher conforme suas necessidades e descartar o que lhes parece obsoleto. O fenômeno também atinge a prática religiosa, pois a pertença a uma igreja tornou-se opcional e é motivada pelas circunstâncias. Mudar de religião ou até mesmo viver sem religião são alternativas possíveis, apontou.
“A IECLB não tem nenhuma garantia de que as crianças que ela batiza serão seus membros no futuro. Somente aquelas pessoas que ela conseguir atrair, socializar e dar-lhes um sentido para a vida integrarão as suas fileiras”, arrolou o palestrante, segundo a repórter Ingelore Starke Koch.
No levantamento estatístico de Kliewer, a taxa de batismos está caindo para menos de 1% dos membros. No Rio Grande do Sul, Estado que concentra a maior parte da membresia da IECLB, os batismos mal compensam os óbitos. Depois da confirmação (comunhão), pouco mais da metade (54%) dos jovens continuam filiados à igreja.
A IECLB nasceu com a chegada dos imigrantes alemães ao Brasil e mantém, 183 anos depois do início do processo de colonização, seu caráter rural. Ela tem maior presença nos municípios interioranos. Nas grandes cidades brasileiras a presença da IECLB é inexpressiva, em termos numéricos. Na Grande Porto Alegre, ela soma 1,9% da população, apenas 0,4% na Região Metropolitana de Curitiba.
Mas ela consegue marcar presença mais significativa em algumas cidades médias que apresentam uma economia mais pujante. Kliewer constata que quanto maior a paróquia, menor é a participação dos fiéis na vida comunitária, em termos proporcionais.
Os Sínodos (instância na estrutura administrativa e pastoral da IECLB, 18 no total) com o maior nível de arrecadação são os que congregam mais paróquias pequenas.
A pesquisa que Kliewer vem desenvolvendo com as estatísticas da igreja há anos aponta, ainda, uma outra curiosidade: o valor da contribuição financeira por membro aumenta do Sul, onde a IECLB tem o maior número de membros, para o Norte.
Onde os membros se encontram no culto, nos grupos ou outras atividades comunitárias, não faltam recursos financeiros para a manutenção do trabalho pastoral, destacou o ex-secretário-geral da igreja.
Fonte: ALC