Um grupo de insurgentes ligados à organização extremista Al-Qaeda deu aos cristãos de Bagdá quatro alternativas: convertam-se ao islã, casem com nossas filhas e lutem conosco, paguem uma taxa para manter o islamismo ou saiam daqui só com a roupa do corpo.
Um oficial do exército norte-americano foi informado das ameaças no mês passado e levantou barreiras ao redor do bairro de Dora, onde vive a maior parte dos cristãos, para reforçar a proteção deles.
Os cristãos de Bagdá se recusam a falar sobre as ameaças com medo de represálias. No entanto, na Síria, para onde milhares de cristãos iraquianos se refugiaram, histórias sobre mortes ou expulsão de casa por causa da fé são comuns.
O principal problema é a recusa em pagar a jizya, uma taxa usualmente cobrada dos não-muçulmanos que estão em territórios considerados islâmicos pela guerrilha armada para defender o islã – uma prática milenar.
“Há dois ou três meses, ouvimos que seríamos retirados à força de Dora”, disse Rafah Elia Daoud, 53 anos, que deixou Damasco, na Síria, em maio.
“Ninguém recebeu um papel com a ameaça, mas nós sabemos. A chance era se converter, pagar a jizya ou sair”, disse ela.
Madeline Shukr Yusuf, de 74 anos, recorda sua passagem pelo Iraque. Ela não tinha dinheiro para pagar mensalmente a jizya de 250 mil denares iraquianos, o equivalente a US$ 200 (R$ 400).
“Eles queriam me matar, mas resolveram levar meus braceletes de ouro”, disse ela, chorando ao lembrar da ameaça de morte. “Eles nos disseram para pagar ou dar uma filha para se casar com um dos militantes”, relatou.
Comunidades cristãs
O Iraque foi um próspero lar para as comunidades cristãs. Inicialmente com os assírios, depois com os caldeus, ambos descendentes da antiga Mesopotâmia.
Alguns dos confidentes mais íntimos do ex-presidente iraquiano Saddam Hussein eram cristãos, incluindo o seu Ministro para Assuntos Exteriores, Tarik Aziz.
As comunidades cristãs foram proeminentes em algumas das maiores cidades do Iraque, incluindo Mosul, no norte, e Basra, ao sul.
Os cristãos iraquianos são uma minoria estimada em 24 milhões de pessoas. Não se sabe ao certo quantos deixaram o país. Estima-se que 2,2 milhões deles estejam exilados e que a maior parte esteja na Síria.
Em Detroit (EUA) vivem hoje mais de 50 mil caldeus que imigraram do Iraque e que estão preocupados com os parentes que vivem no país.
Os caldeus são iraquianos católicos. Eles falam a antiga língua de Jesus, o aramaico.
Pelo menos 19 mil cristãos iraquianos se registraram junto à agência para refugiados da ONU, em Damasco, e milhares de outros procuram abrigo, mas não conseguiram fazer o registro.
Fonte: Portas Abertas