A ex-primeira-ministra e líder da oposição paquistanesa Benazir Bhutto foi assassinada ontem num atentado suicida que matou pelo menos outras 16 pessoas durante um comício na periferia de Islamabad. O atentado mergulhou o país em uma das piores crises dos seus 60 anos de história independente. Os cristãos do país, que têm sido alvo de ataques de extremistas islâmicos, pedem orações.
Uma onda de violência foi desencadeada, especialmente na província do Sindh, e deve provocar o adiamento da eleição parlamentar de 8 de janeiro, que marcaria a volta do país ao regime civil.
A falta de controle por parte das autoridades aumenta o risco para as minorias religiosas, uma vez que os extremistas islâmicos ficam livres para espancar, matar e destruir as propriedades dos cristãos.
Em Karachi, capital da província do Sindh, milhares de pessoas saíram às ruas para protestar. Pelo menos três agências bancárias, uma repartição pública e uma agência dos correios foram incendiadas, segundo uma testemunha. “Há confusão em praticamente todos os lugares”, disse uma autoridade policial.
O marido de Bhutto, Asif Ali Zardari, viajou de Dubai (Emirados Árabes Unidos) a Islamabad para buscar o corpo de sua mulher e levá-lo a Larkana, cidade natal de Bhutto e onde seu pai está enterrado. Membros do partido afirma que o funeral deve ser realizado ainda hoje.
O atentado
O homem-bomba atirou e atingiu o pescoço de Bhutto quando ela acenava para a multidão no teto retrátil de seu carro blindado, depois do fim da reunião eleitoral. Logo depois, ele acionou a bomba que transportava.
Benazir Bhutto, 54 anos, foi em 1998 a primeira mulher a dirigir um país muçulmano, com apenas 35 anos. Era imensamente popular entre os pobres e as minorias do Paquistão, caso dos cristãos, e esperava chefiar o governo pela terceira vez.
Ela morreu num hospital de Rawalpindi, onde fica a sede do Exército e onde o pai dela, o ex-premiê Zulfikar Ali Bhutto, foi enforcado em 1979, depois de ser deposto num golpe militar. Ainda não se sabe se ela faleceu vítima do tiro que recebeu ou da explosão.
“É um ato dos que desejam que o Paquistão se desintegre”, disse Farzana Raja, dirigente do Partido do Povo do Paquistão, de Benazir Bhutto. “Eles acabaram com a família Bhutto.”
O atentado foi o último de uma série de ataques sem precedentes no Paquistão, que já deixou quase 800 mortos em 2007. O mais sangrento também teve como alvo um comício de Benazir Bhutto.
No último dia 18 de outubro, dois homens-bomba mataram 139 pessoas ao acionar suas bombas durante um gigantesco desfile de simpatizantes que comemoravam em Karachi, a grande metrópole do sul do Paquistão, a volta da ex-primeira-ministra após oito anos de exílio.
Sonho de liberdade
Assim que voltou ao Paquistão, Benazir disse: “ Voltei para minha terra natal com o propósito de criar uma nação aberta a todos”.
Benazir estava disposta a quase tudo para levar a liberdade ao seu país, mesmo que pelo caminho perdesse a vida. “Os extremistas podem matar-me mas não conseguirão matar os sonhos dos paquistaneses”, escreveu Benazir em outubro para o diário francês “Le Figaro”.
Fonte: Portas Abertas