Representantes religiosos ouvidos pelo Estado coincidem em um ponto: consideram positivo orientar os fiéis em matéria política. Mas a maioria defende uma orientação indireta. A religião serviria para oferecer os parâmetros morais usados na avaliação dos candidatos. Depois, cada fiel eleitor realizaria sua escolha com liberdade.
Em alguma medida, concordam com a linha oficial adotada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Na quinta-feira, o papa Bento XVI recordou aos bispos brasileiros “o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas”, sublinhando, no entanto, a liberdade e responsabilidade de cada fiel.
“A única diretriz é que (as pessoas) expressem com coerência a fé em todas as circunstâncias da vida”, explica o padre Gregório Teodoro, da Catedral Metropolitana Ortodoxa de São Paulo. Ele afirma que as igrejas da comunhão ortodoxa não costumam apoiar candidatos, mas procuram difundir valores cristãos. De modo indireto, tais valores orientam as escolhas dos fiéis.
Não há unidade de posição nas igrejas evangélicas. As igrejas históricas costumam concordar com a linha adotada por ortodoxos e católicos. A Igreja Metodista, por exemplo, elaborou a cartilha do voto ético, assinada pelo presidente do Colégio Episcopal, bispo João Carlos Lopes. O documento condena os votos em branco e nulo. Proíbe também qualquer propaganda política durante cultos. E orienta a não votar em candidatos apenas por que são evangélicos. “Procurem identificar nos políticos propostas que se harmonizam com as nossas.”
A cartilha chama atenção para a credibilidade de Lula, os avanços sociais e econômicos. Ao mesmo tempo, cita escândalos de corrupção e a recente aprovação da Lei da Ficha Limpa.
Algumas igrejas, no entanto, apoiam formalmente os candidatos. A Igreja Universal do Reino de Deus, por exemplo, manifestou apoio oficial à candidatura de Dilma Rousseff. Já o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, apoia José Serra.
De acordo com Geraldo Campetti, diretor executivo da Federação Espírita Brasileira, a proposição política não faz parte das reuniões que ocorrem nos centros. “Não há orientação direta. Cada um tem a sua consciência. Como o voto é secreto e universal, cada um tem o direito de escolher o próprio candidato de acordo com seu livre arbítrio.”
Já a União Nacional das Entidades Islâmicas (UNI) não só orienta os fiéis como recomenda o voto em Dilma. “Existe uma recomendação da UNI que se vote na continuidade”, diz o xeque Jihad Hassan Hammadeh, presidente do conselho de ética da UNI. “As pessoas são livres, mas vemos muitas opiniões favoráveis a Dilma. Deixamos as mesquitas abertas para que os candidatos pudessem expor seus programas.” O xeque explica que religião e política não são assuntos dissociados na comunidade islâmica. “Nós seguimos o seguinte princípio: a religião rege a vida do muçulmano em todos os seus aspectos. O xeque é um líder religioso e também político.”
A monja Coen, adepta do zen-budismo, define a política como o momento maior para pensar o bem comum. Na eleição, segundo ela, “é preciso avaliar as propostas para ver quais correspondem aos seus valores e propostas de vida”.
Fonte: Estadão / Gospel+
Via: Folha Gospel