O apoio militar e diplomático “incondicional” a Israel vai contra os interesses e a segurança dos Estados Unidos, segundo um livro que será lançado na semana próxima e que levanta o debate sobre a influência do “lobby” israelense na superpotência.
A bomba editorial, que procura quebrar o tabu que existe em relação ao assunto, leva a assinatura de dois influentes acadêmicos e poderá ser encontrado nas livrarias a partir da próxima terça-feira sob o título: “O lobby de Israel e a política exterior dos Estados Unidos”.
Os professores de ciências políticas John Mearsheimer, da Universidade de Chicago, e Stephen Walt, de Harvard, lançam o livro este ano depois da publicação, em 2006, de um artigo de conteúdo – e efeito midiático – semelhantes.
Sua tese é: o apoio americano ao Estado judaico não pode ser explicado apenas por razões estratégicas ou morais, mas sim pela influência de grupos de pressão que incluem não só organizações judaicas, mas também círculos cristãos fundamentalistas e neoconservadores, simpatizantes do sionismo.
O resultado – segundo o livro – é uma política exterior americana desequilibrada no Oriente Médio, a aventura bélica no Iraque, o risco de uma guerra com o Irã e a Síria e o prejuízo à segurança de todo o Ocidente.
“Israel já não tem para os Estados Unidos o valor estratégico que muitos acreditam. Talvez tenha tido durante a Guerra Fria, mas agora que o conflito terminou isso se tornou um fardo. O respaldo incondicional a Israel exacerbou o antiamericanismo no mundo, agravou o problema do terrorismo para os Estados Unidos e complicou as relações com aliados chave na Europa, Oriente Médio e Ásia”, disseram os autores durante a apresentação do livro.
Segundo os acadêmicos, “apoiar o tratamento dado por Israel aos palestinos fez aumentar o antiamericanismo no mundo e certamente ajudou os terroristas a recrutar mais adeptos”.
O texto é contestado pela comunidade judaica nos Estados Unidos, que lançou uma contra-ofensiva publicando no mesmo dia um livro antagônico: “As mentiras mais letais: o lobby de Israel e o mito do controle judaico”.
Seu autor, Abraham Foxman, diretor da Liga Anti-Difamatória, considera que Mearsheimer e Walt fizeram “um relato oblíquo e insidioso do conflito árabe-israelense e do papel dos simpatizantes de Israel nos Estados Unidos”.
“Toda a política norte-americana em relação ao conflito é apresentada de forma exagerada, como se os Estados Unidos fossem parciais em seu apoio a Israel, e sua política fosse simplesmente o resultado do lobby israelense”, comentou Foxman.
Em entrevista à AFP, Foxman explicou que a priori não gostaria qualificar o livro como anti-semita: “O livro deles se encaixa melhor como uma falsa acusação”.
Os autores denunciam que Israel é o país que mais recebe assistência econômica e militar dos EUA no mundo: são cerca de três bilhões de dólares anuais.
O apoio diplomático ao Estado judaico funciona da mesma maneira: entre 1972 e 2006, Washington vetou 42 projetos de resoluções do Conselho de Segurança da ONU contrários a Israel e muitos outros foram enfraquecidos com a ameaça de veto.
Em seu livro, publicado pela Palgrave Macmillan, Foxman diz que a relação especial funciona nos dois sentidos. “Os Estados Unidos ganharam muito com seu apoio a Israel”, afirma.
O prêmio Nobel da Paz Elie Wiesel saiu em defesa de Foxman, declarando que ele “demostrou mais uma vez que quando o povo judeu e sua honra precisam ser defendidos, sua voz é eloqüente e poderosa”.
Um debate público com os acadêmicos programado para setembro com o objetivo de apresentar o livro de Mearsheimer e Walt foi cancelado pelo instituto Council on Global Affairs, de Chicago, que não conseguiu agendar uma confrontação com Foxman.
Na conclusão de seu ensaio, publicado pela Farrar, Straus e Giroux, Mearsheimer e Walt preconizam uma mudança na política americana em relação a Israel.
“Os Estados Unidos seriam um aliado melhor se seus líderes condicionassem mais o apoio a Israel e se pudessem aconselhar os israelenses de maneira mais franca e crítica, sem ter que enfrentar as represálias do lobby”, escrevem.
Faltando pouco mais de um ano para as eleições de 2008 nos EUA, é bastante improvável que a questão chegue a se transformar em tema de campanha. “Lamentavelmente não”, dizem Mearsheimer e Walt.
Fonte: AFP