CHINA – Os Jogos Olímpicos terminaram. As tentativas de evidenciar a liberdade religiosa, o que inclui os esforços da China no sentido de prover Bíblias para os atletas e cultos nas igrejas oficiais para os visitantes, contrastaram totalmente com as políticas adotadas contra cristãos e ativistas defensores da liberdade de expressão.
A China contratou clérigos para realizarem cultos e publicou uma edição bilíngüe especial da Bíblia para distribuir aos atletas e funcionários de igrejas durante o evento (leia mais), numa tentativa de mostrar que são abertos aos religiosos.
Só que simultaneamente, os oficiais do governo “perguntaram” aos líderes de igrejas domésticas de Pequim (ou Beijing) se eles gostariam de assinar documentos declarando que concordavam em não realizar cultos e reuniões durante os Jogos, segundo informações da Associação de Ajuda à China (CAA, sigla em inglês).
Debaixo deste acordo, as igrejas domésticas foram proibidas de se reunirem no período de 15 de julho a 15 de outubro, num total de 17 semanas. Os que quebrassem o acordo enfrentariam ação disciplinar.
O texto do acordo perguntava se aquelas igrejas domésticas “iriam refrear a organização de reuniões ilegais e o recebimento de doações, bem como a realização de sermões e pregação de grupos religiosos com estrangeiros”.
Funcionários também contrataram os clérigos religiosos das cinco religiões aprovadas e sancionadas pelo governo para realizarem cultos a atletas e turistas durante os Jogos. Os cinco grupos são os budistas, taoístas, muçulmanos, protestantes e católicos. Cada um responde a uma instituição religiosa específica que foi designada para vigiar as atividades deles.
Mas a China já planeja uma sanção severa e nova aos “elementos problemáticos”, incluindo líderes de igrejas domésticas, durante o mês de outubro – quando a maioria dos atletas Olímpicos, turistas e jornalistas terão deixado definitivamente o país.
A Sociedade Bíblica imprimiu uma edição especial de 30 mil unidades da Bíblia bilíngüe completa e 10 mil Novos Testamentos para serem distribuídos na Aldeia Olímpica e a igrejas registradas nas cidades em que ocorreram provas esportivas, segundo informou em junho a agência de notícias católica. A Amity Press é a única editora aprovada na China para publicar Bíblias (relembre). Só que o povo chinês continuou sem o livre acesso às Escrituras.
Perseguição a católicos e evangélicos
A União de Notícias Asiáticas Católicas confirmou em um relato no dia 7 de agosto que os funcionários tinham proibido bispos e padres de igrejas católicas não-registradas de administrar sacramentos ou fazer trabalho pastoral durante os Jogos.
Funcionários colocaram vários bispos da igreja clandestina em prisão domiciliar e lhes proibiram que contatassem os padres deles. Na aldeia de Wuqiu, município de Jinxian, Hebei, a polícia ergueu uma pequena guarita em frente à catedral presidida pelo bispo Julius Jia Zhiguo para poder monitorá-lo mais facilmente durante as 24 horas do dia.
Além disso, o bispo Joseph Wei Jingyi, de Qiqihar, no nordeste da China, recebeu telefonemas de funcionários do governo perguntando se ele planejava realizar algum encontro religioso durante os Jogos Olímpicos. Wei disse que ele ficaria em casa e rezaria para o sucesso dos Jogos. Antes da Olimpíada, a polícia proibiu vários cristãos de se encontrarem com visitantes dos Estados Unidos. Funcionários do governo pediram a outros americanos que deixassem a capital durante o evento.
Em julho, a polícia exigiu repetidamente que o pastor Zhang Mingxuan e a esposa dele Xie Fenlang deixassem Pequim. Ele foi detido pela polícia chinesa depois que jornalistas da BBC tentaram entrevistá-lo na segunda-feira, dia 4 de agosto. Juntamente com ele estavam sua esposa Xie Fenglang e o co-pastor Wu Jiang He ( leia mais).
Zonas de protesto foram uma farsa
A liberdade de expressão foi mais um simulacro. A China definiu três zonas para a realização de protestos olímpicos, mas embargou todos os pedidos de autorização (77 candidaturas) para manifestações durante os Jogos, silenciando qualquer voz dissidente que prejudicasse “os interesses nacionais”.
Alguns dos ativistas que cumpriram a lei chinesa e apresentaram pedidos para a realização de protestos, estão presos e outros sob vigilância. Duas senhoras com mais de 70 anos que queriam protestar foram presas e condenadas a ir para um campo de trabalhos forçados. Posteriormente, por causa da forte pressão internacional, elas receberam uma pena mais branda: a prisão domiciliar.
Antes de se candidatar a ser sede dos Jogos Olímpicos, a China se comprometeu em melhorar os direitos humanos e a conceder liberdade para os jornalistas que fossem ao país, mas isso também não se confirmou.
A ONG Repórteres Sem Fronteiras acusou o governo chinês de “cinismo”, e o Comitê Olímpico Internacional (COI) de inoperante, por não ter conseguido fazer com que Pequim respeitasse o espírito olímpico.
Fonte: Portas Abertas