A aposentada Maria Iraci Bressianini, 65 anos, católica, diz que tem um marido de fé, mas não está contente com o fervor religioso dele, o também aposentado Sidinei José Marques, 49. O caso foi parar na delegacia após o marido doar pela terceira vez um carro para uma igreja. Hoje o casal está a pé.
“Ele chegou em casa a pé e eu perguntei: ‘Sidinei, você deu o carro de novo pra igreja?’ Aí ele desconversa”, diz a aposentada, que no mesmo dia foi à delegacia e registrou queixa do ocorrido. “Estão fazendo lavagem cerebral na cabeça dele. Se meu irmão não interferisse, ele dava até a casa para a igreja”. O casal mora no Parque Hortênsia, em Maringá.
Maria registrou a queixa no último dia 14, depois de Sidinei assumir que havia entregue um Gol ano 2000 como oferta à igreja – nos últimos anos, uma Kombi e um Chevette teriam tido o mesmo destino. “Ele ainda estava pagando R$ 500 por mês de parcela”, conta a mulher. “O carro foi comprado com o dinheiro dele, mas as coisas não são assim, né? Ele disse que larga de mim, mas não larga da igreja”.
O caso ainda será apurado pela polícia. O escrivão que registrou o caso, Ivan Galdino de Freitas, disse que vai chamar o marido e o pastor da igreja para decidir o que pode ser feito. “Queremos saber o que está acontecendo. Se identificarmos que há indício de crime, alguém vai ser responsabilizado”, diz.
Sidinei tem 8 anos dedicados à igreja. Foi de poucas palavras com a reportagem. Não confirmou, mas também não desmentiu a informação da esposa, de que teria doado três automóveis para a igreja. Afirma que a doação também não foi para ajudar a instituição, mas foi em busca de uma resposta. Conta que agiu conforme sua fé.
Pastor nega
Na Igreja Universal do Reino de Deus, o pastor Robson nega que a instituição tenha recebido um carro do fiel. “Não tem nada disso. Conheço essa senhora mulher dele, ela já veio aqui reclamar em outras ocasiões. O que houve uma vez foi ele vender um carro e fazer uma oferta à igreja”.
Maria confirma que já foi na igreja pedir o carro de volta, mas teria sido convidada a se retirar do local. A mulher conta que também já aceitou seguir a fé do marido, mas desistiu. “Eu sofro de desmaios e o Sidinei disse que a igreja podia curar. Fui lá e me agarraram pelos cabelos, chacoalharam e começaram a gritar ‘sai capeta!’. Eu comecei a chutar umas canelas para ver se eles se desgrudavam do meu cabelo e aí o pessoal achou que eu estava possuída mesmo”, relata.
Opinião
Segundo a historiadora Solange Ramos de Andrade, pesquisadora do Laboratório de Estudos em Religiões e Religiosidades da Universidade Estadual de Maringá (UEM), é comum em algumas religiões o conceito de oferenda seja algo que tenha grande valor. “A crença, nesses casos, é que quanto mais precioso é o que você dá, maior a possibilidade de você ter uma vida melhor”, diz.
No caso de Sidinei, avalia Solange, a doação certamente foi feita na fé de que estava agindo corretamente. “Não digo que seja o caso dele, mas é claro que existem os mal-intencionados para tomar dinheiro dos outros. Mas quem doa não vai admitir isso, porque está convicto que fez o certo”, diz.
Fonte: O Diário – Maringá