O apoio de John Hagee traz à tona o frágil relacionamento de McCain com os evangélicos.
O reverendo também se recusa a conversar sobre o assunto
Quando o senador John McCain obteve o apoio do reverendo John C. Hagee, em fevereiro, a esperança era de que sua campanha para as eleições presidenciais dos EUA reforçasse suas credenciais conservadoras entre os evangélicos e provocasse entusiasmo em uma fatia do eleitorado que seria de fundamental importância para ele nas eleições de novembro.
No entanto, desde então, Hagee vem assumindo uma postura defensiva em relação a algumas de suas opiniões sobre católicos e judeus e, tanto ele quanto a administração de campanha de McCain não se pronunciam sobre o apoio.
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O controverso aval traz à tona o frágil relacionamento de McCain com os evangélicos conservadores, grupo cortejado pelo presidente Bush com enorme sucesso e que passou a ser visto pelos republicanos como vital para suas chances de eleição em muitos estados. Segundo declarações de Hagee em uma recente entrevista, a campanha de McCain buscou o seu apoio. Mas depois que ambos anunciaram a adesão em um evento em 27 de fevereiro em San Antonio, cidade natal de Hagee, a administração da campanha parou de comentar sobre o assunto.
Contrariados
Uma porta-voz responde perguntas citando uma declaração de McCain feita um dia depois da formalização do apoio, então recebido com uma avalanche de críticas: “De maneira alguma busquei esse apoio com o intuito de sugerir que eu, de meu lado, concordo com todas as opiniões do pastor Hagee, o que obviamente não procede.”
Hagee também se recusa a conversar sobre o apoio. Durante uma entrevista pelo telefone a jornalistas na segunda-feira, ele não contou sequer como tudo aconteceu. “Por ora, devido a uma série de motivos é melhor eu não comentar sobre nenhum aspecto da campanha.”
A polêmica em torno de Hagee pareceu tomar de surpresa a administração de campanha de McCain, disse David C. Leege, especialista em eleitores católicos e professor emérito de ciências políticas na universidade de Notre Dame.
McCain começou a buscar o apoio de Hagee há mais de um ano, na tentativa de incentivar o apoio de eleitores evangélicos à campanha. Líderes republicanos estão preocupados com a possibilidade de abstenção dos evangélicos nas eleições de novembro, o que privaria McCain de votos que poderiam assegurar a derrota democrata.
São muitos os adeptos de Hagee que possuem enorme inserção no rádio e na televisão. Contudo, ele também foi criticado por católicos por comentários sobre a igreja e, recentemente, por alguns judeus por suas opiniões sobre Israel. Depois que Hagee oficializou o apoio a McCain, as críticas foram severas e, pouco depois, McCain se distanciou, fazendo uma série de declarações até anunciar que “repudiava” as opiniões de Hagee que pudessem ser consideradas anticatólicas.
Reuters
O pré-candidato republicano John McCain em discurso após a superterça (Foto: Reuters)Um assessor de McCain declarou na segunda-feira que a coordenadoria da campanha não conseguiu investigar o histórico de Hagee adequadamente e disse que, por esse motivo, foram feitos ajustes nos procedimentos de campanha para análise e aprovação de quem apoiará a campanha.
Declarações e intrigas
McCain, que não fala sobre religião publicamente, possui um histórico complicado com cristãos conservadores. Oito anos atrás, ele chamou os reverendos Jerry Falwell e Pat Robertson de “agentes da intolerância.”
Entretanto, à medida que se preparava para outra candidatura à presidência, McCain foi paraninfo da Liberty University, de Falwell, em 2006, esteve com Hagee no Texas e discursou na Noite por Israel em Washington, em 2007.
Ainda na semana passada, porém, James C. Dobson, do grupo evangélico Focus on the Family, criticou McCain em um editorial no jornal “Wall Street Journal” por relutar em defender uma emenda federal contra o casamento entre pessoas de mesmo sexo e por não se opor ao financiamento federal destinado a pesquisas com células-tronco.
Hagee, de 68 anos, não é tão conhecido como Dobson ou Falwell, mas é poderoso dentro da “ala política extremamente conservadora da comunidade evangélica,” declarou D. Michael Lindsay, especialista em relações político-evangélicas e diretor assistente do Center on Race, Religion and Urban Life da Rice University. Autor de muitos livros, Hagee também fala duas vezes por dia em 75 emissoras de rádio e 125 de televisão e conta com uma lista pessoal de e-mails de 2 milhões de adeptos, contou Lindsay. “São seus membros que apresentam menos chances de apoiar McCain,” disse ele.
Imediatamente após o anúncio do apoio, a Liga Católica o condenou como um anticatólico. O grupo o acusou de rotular a Igreja Católica Romana como anti-semita e de se referir à igreja em sua teologia apocalíptica como “a grande prostituta da Babilônia”, o símbolo de uma igreja falsa.
Hagee declarou que suas opiniões haviam sido mal-interpretadas e que jamais fora um anticatólico. Ele disse que havia pesquisado o anti-semitismo em todas as denominações cristãs e que a referência a uma falsa igreja se aplica aos cristãos que não acreditam no evangelho.
Hagee também foi censurado na semana passada pelo rabino Eric Yoffie, presidente da União pela Reforma do Judaísmo, a maior congregação judaica do país. Yoffie chamou Hagee e seu grupo, Cristãos Unidos por Israel, de “extremistas”.
Hagee, que está em viagem em Israel com mil evangélicos, defendeu-se na segunda-feira, afirmando que Yoffie “baseia-se em algumas declarações minhas e em outras destacadas fora de contexto. Yoffie ignora nosso histórico porque esse histórico destrói completamente suas alegações.”
A notoriedade de Hagee se explica, em parte, pelo seu ativismo em prol de Israel. Seu grupo possui uma lista de contatos de 80 mil “líderes espirituais”, disse Hagee, e ele recebeu cerca de US$ 30 milhões (cerca de R$ 52 milhões) para as causas israelenses nos últimos cinco anos.
A opinião do grupo, que foi transmitida a membros da administração Bush, é de que Israel não deve ser pressionado a “fazer concessões territoriais que não queira fazer”, declarou Hagee na segunda. Ele não apóia uma solução para o conflito entre Israel e Palestina que seja baseada na formação de dois estados.
Embora muitos líderes judeus aprovem o apoio de Hagee, Yoffie, em um encontro em Cincinnati com o rabinato da Reforma do Judaísmo, pediu que os líderes rejeitassem os Cristãos Unidos por Israel. “Se colocadas em prática”, disse Yoffie, “essas opiniões significariam um desastre para Israel e levariam ao isolamento diplomático, aumentariam a violência e a perda da maioria judaica em Israel.”
A maioria dos 55 milhões de adultos evangélicos nos Estados Unidos acredita literalmente na segunda vinda de Cristo, mas Hagee é um dos cerca de 9 milhões que são dispensacionalistas premilenaristas, declarou John Green do Pew Forum on Religion and Public Life. Compilando passagens bíblicas como Apocalipse, Daniel, Ezequiel, entre outras, eles montam “um quebra-cabeça para criar um cenário do final da história extraordinariamente detalhado”, explicou Timothy Weber, autor de “On the Road to Armageddon: How Evangelicals Became Israel's Best Friend.”
Para que as profecias se concretizem, segundo os defensores dessa doutrina, os judeus devem controlar Israel.
Hagee disse que apóia Israel devido às ordens bíblicas de “abençoar” os judeus. “Nosso apoio a Israel não tem absolutamente nada a ver com nenhum tipo de cenário de Fim dos Tempos”, declarou
Hagee. “Todos os profetas do Velho Testamento previram que o estado de Israel renasceria.”
Hagee, enquanto isso, tenta emendar as relações com líderes católicos. Recentemente, reuniu-se em Nova York com Deal W. Hudson, ex-estrategista de campanha de Bush, que disse que foi solicitado a “escolher outros líderes católicos” para se encontrarem com Hagee.
No entanto, a opção de Hagee por Hudson como aliado católico pode gerar problemas: Hudson foi obrigado a renunciar em 2004 ao cargo de representante católico do Comitê Republicano Nacional depois que antigas acusações de transgressão sexual vieram à tona.
Fonte: G1