SÃO PAULO – O coordenador da 6. Conferência sobre Meios, Religião e Cultura, reunida de 11 a 14 de agosto em São Paulo, e professor da Universidade de Colorado, Estados Unidos, Stewart Hoover, sustentou que a religião midiatizada está gerando não só um maior nível de visibilidade das diversas expressões religiosas, mas propiciando profunda reestruturação no modo de administrar o poder, de viver a espiritualidade e de posicionar-se na esfera pública.
Um dos pioneiros na pesquisa sobre tele-evangelismo e o impacto midiático das igrejas, Hoover mencionou duas tendências da religião contemporânea sobre as quais os meios desempenham um papel importante. O pesquisador observou, em primeiro lugar, uma forte tendência às buscas autônomas e encontros des-institucionalizados com o mundo da espiritualidade. “As pessoas constroem hoje sua religiosidade sem depender de nenhuma regulação orgânica”, sublinhou.
Hoover destacou que os meios se converteram em espaços através dos quais se constrói o mercado que permite com que uma demanda religiosa diversificada chegue às pessoas com maior fluidez e sem a formalidade das mediações tradicionais.
“Neste contexto, os sujeitos sociais modernos atuam de maneira cada vez mais autônoma e pragmática em contraste com aquelas expressões e práticas culturais ‘místicas’ ou efervescentes”, afirmou.
Segundo a análise do professor estadunidense, isso não significa que as manifestações religiosas contemporâneas sejam mais triviais ou inconsistentes na atualidade. Ao contrário, isso implica que as pessoas hoje se percebam como consumidores ativos ou fiéis religiosos pró-ativos dos recursos disponíveis no mercado religioso global. Ao mesmo tempo, o “crente” de hoje tornou-se um produtor dos novos discursos religiosos des-institucionalizados.
Em relação ao fenômeno da igreja eletrônica, Hoover identificou uma nova tendência. “No passado, os movimentos e grupos religiosos, especialmente o setor evangélico, construíam seu poder a partir da apropriação comercial dos meios. No entanto, hoje a emergência religiosa nos meios gera sua própria lógica de legitimidade para além do poder daqueles que administram estes meios”.
Nesse sentido, Hoover sustentou que os meios alternativos, não comerciais, estão expandindo-se de maneira acelerada e gerando novos apoderamentos locais. “Hoje é possível, por isso, falar de uma configuração ‘glocalizada’ da religião contemporânea”, pontuou.
Ao término do encontro, os participantes reconheceram que este fórum tem evidenciado o crescente interesse por parte dos pesquisadores sociais de todo o mundo em relação às implicações midiáticas do fenômeno religioso contemporâneo.
A emergência dos denominados “blogs” da fé em países como a Austrália, o crescimento acelerado da indústria musical midiática na América Latina, o massivo consumo global de sites religiosos na Internet, a luta dos pentecostais para se apropriar de meios comerciais na Nigéria, a “hibridização” dos rituais religiosos midiáticos em comunidades rurais italianas, as transições do tele-evangelismo norte-americano, e as resignificações da cultura oral em espaços digitais na Índia representam apenas alguns dos exemplos mencionados neste fórum e que configuram o novo mapa midiático da religião contemporânea global.
Fonte: ALC