Uma “diabinha” vai atentar o juízo dos marmanjos na Sapucaí durante o desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel. Com pintura corporal do busto à genitália, Angela Bismarchi vai incorporar Lilith, a mãe do fogo, a convite do carnavalesco Cid Carvalho. A “fantasia” — que inclui um rabinho e adesivo cirúrgico como tapa-sexo — será usada na frente do carro que representa a Igreja Católica.
— A igreja é parceira do carnaval desde sempre. É ela quem cria a data da festa (o calendário acompanha a data da quaresma). A relação entre nós tem que ser de respeito. Quando se está levando a imagem de Deus com respeito, qual o problema? — argumenta Cid Carvalho.
O carnavalesco pretende mostrar no enredo “Parábola dos divinos semeadores” celebrações e rituais ligados à terra, que são apontados como a origem da folia.
— O enredo não é a história da agricultura , com transgênicos. Não é uma coisa engessada, careta. Vamos mostrar, através desses rituais ligados ao que a terra dá ao homem, como o carnaval é herdeiro de celebrações a deuses, como Ísis, deusa da agricultura, no Antigo Egito; e Baco, senhor das uvas e das parreiras, na Grécia.
Não há uma única definição para Lilith na história. Ela pode ser apontada como uma Deusa Mãe, venerada por tribos agrícolas pré-históricas que resistiam a invasões de povos nômades ou, na literatura hebraica, como a primeira mulher de Adão (como na imagem do alto, postada no Twitter de Angela em dezembro). Nesta versão, ela se recusa a ser submissa, foge e dá origem a seres demoníacos.
A modelo Angela Bismarchi, que se diz simpatizante da filosofia da igreja evangélica batista, arrumou uma estratégia artística para não ir de encontro aos princípios religiosos: vai encarar Lilith como uma personagem.
— O carnavalesco falou realmente sobre a diabinha, mas pedi a ele que fosse um personagem. Gosto de ser um personagem na Avenida. Creio em Deus, minha família tem católicos e evangélicos, gosto da igreja batista. Nunca vou bater de frente com a igreja. Encaro como se fosse um personagem de novela — afirma a modelo.
Angela garante que não há chance de a polêmica com a igreja ser maior do que o previsto, por conta do adesivo cirúrgico. Em 2007, parte dele se soltou na Avenida e, por pouco, a Porto da Pedra não perdeu pontos .
— Daquela vez descolei o adesivo antes de entrar na Avenida, porque tive vontade de ir ao banheiro. Depois disso, aprendi a lição. Depois que coloco o adesivo, só vou ao banheiro depois do desfile — garante ela.
Fonte: Extra