Uma instalação de arte que mistura uma imagem de Cristo com símbolos kitsch da cultura pop, e inclui um crucifixo com um pênis móvel, causou alvoroço entre os católicos conservadores nas Filipinas, que consideram a obra um sacrilégio.
O artista Mideo Cruz, responsável pela instalação — feita com o objetivo de ser um comentário sobre o culto de um ícone — tem sido tachado de “demônio” e bombardeado com ameaças de morte e e-mails irados desde que a peça passou a ser mostrada em uma exposição em Manila, iniciada em 17 de junho.
“Que a sua alma queime no inferno, seu Diabo”, escreveu um furioso usuário do Facebook, um entre dezenas de pessoas atacando o trabalho de Cruz. Cruz, de 37 anos, trabalha com performances e artes visuais e já expôs em espaços artísticos em Nova York, Paris e Tóquio. Ele disse que queria provocar reação, mas ficou surpreso com a violência das respostas do público.
“Não se pode forçar as pessoas. Mas apenas espero que quando olhamos para algo, o processo não pare na superfície”, afirmou. Cruz disse que sua instalação, intitulada “Poleteismo”, ou “Politeísmo”, é sobre a adoração de imagens e como a idolatria se modifica ao longo da história e na cultura moderna.
Pôsteres de Cristo e da Virgem Maria, crucifixos e raridades religiosas relembram os 300 anos do domínio espanhol, que introduziu o catolicismo nas Filipinas, enquanto imagens de Mickey Mouse, da Estátua da Liberdade e do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, apontam para a duradoura influência do imperialismo norte-americano no país.
“Isto trata de objetos que cultuamos, como nós criamos esses deuses e ídolos, e como nós somos criados por nossos deuses e ídolos”, disse Cruz. Uma parte da instalação é um crucifixo gigante de madeira com um pênis vermelho brilhante que pode ser mexido para cima e para baixo, um símbolo de uma sociedade patriarcal onde os homens são ‘cultuados’, disse ele.
Versões anteriores da obra, que também inclui pôsteres kitsch e lembranças de viagens de Cruz, foram exibidas em 2002 em outras galerias, mas o atual furor não tem precedentes. “É muito ofensivo à maioria, já que a maioria é cristã. É um tipo de zombaria da fé”, afirmou o professor Emmanuel Fernández, membro do grupo social fortemente católico Cavaleiros de Colombo.
Os católicos romanos constituem cerca de 80 por cento da população filipina e os conservadores são muito presentes na vida pública. Grupos de lobistas católicos atuam agressivamente contra leis para ampliar as informações sobre contraceptivos e os bispos punem defensores do divórcio e do casamentos entre pessoas do mesmo sexo.
Os pedidos de boicote ou encerramento da exposição inundaram o Centro Cultural das Filipinas, onde está sendo exibida, e uma universidade católica que apóia os artistas integrantes da mostra pediu para ter seu nome retirado. Mas a diretora do setor de artes visuais do Centro, Karen Ocampo-Flores, disse que a instituição está apenas cumprindo sua função de cultivar a expressão artística e lamentou que a instalação esteja sendo vista somente em partes, e não em seu conjunto.
“Eu chamaria isso de histeria moralista, eu chamaria de miopia religiosa”, disse ela. “Sim, você pode ter sua fé, e isso pode ser respeitado. Mas você também tem de estar apto a tolerar e compreender os pontos de vista dos outros.”