As obras ordenadas pelas autoridades palestinas perto da Mesquita de al-Aqsa estão causando polêmica entre os arqueólogos israelenses, que afirmam que os trabalhos danificam vestígios do Monte do Templo.
“Esta é uma ação brutal contra o lugar mais sensível para o povo judeu”, disse à imprensa o arqueólogo israelense Gabriel Barkai. Ele é um membro do Comitê contra a Destruição de Antiguidades no Monte do Templo.
O Monte do Templo é o nome que os judeus dão ao lugar onde hoje ficam as mesquitas do Domo da Rocha e al-Aqsa. Os muçulmanos conhecem o local, o terceiro mais sagrado do Islã, depois de Meca e Medina, como al-Haram al-Sharif, o “Nobre Santuário”. Ele também é chamado de Esplanada das Mesquitas.
Nessa área os arqueólogos situam os restos do Segundo Templo, construído pelo rei Salomão, que foi destruído pelos romanos no ano 70 da era cristã. O único vestígio dele é o Muro das Lamentações, que fica ao lado de al-Aqsa.
A Esplanada é administrada pelo Wafq, comitê islâmico que cuida dos templos muçulmanos de Jerusalém. A Polícia israelense intervém quando há distúrbios ou escavações não autorizadas pelo Departamento de Antiguidades de Israel.
Os lugares sagrados se encontram no centro da disputa do conflito israelense-palestino. Especialmente desde que Israel assumiu o controle total de Jerusalém, após a sua vitória na Guerra dos Seis Dias, em 1967.
A polêmica começou há um mês, quando vários trabalhadores palestinos chegaram ao local. Com a ajuda de máquinas, eles começaram a remover e a transportar blocos de pedra.
“Só mudamos algumas redes elétricas. Não construímos nada especial nem estamos escavando neste momento”, disse à Efe Yousef al-Nashi, porta-voz do Wafq. Ele também rejeitou a vigilância da Polícia, que em tempos de tensão fixa normas para os fiéis muçulmanos que chegam à Espalanada.
Mas a porta-voz do Departamento de Antiguidades de Israel, Dalit Menzin, disse à agência Efe que “há escavações constantes e é impressionante o que se pode achar neste lugar”, sem acrescentar mais dados.
Barkai comentou que, se o Departamento de Antiguidades não tomar uma atitude, “várias relíquias importantes para judeus, muçulmanos e cristãos podem ser afetadas”.
Na Esplanada das Mesquitas começou, em 28 de setembro de 2000, a Segunda Intifada, conhecida como a de al-Aqsa. O estopim foi uma visita ao local do então líder da oposição de direita Ariel Sharon, mais tarde primeiro-ministro israelense.
Apesar das tensões, os turistas não deixam de visitar o lugar. De pé, ao lado da Mesquita do Domo da Rocha, a especialista e guia turística Guila Treibish mostra um desenho das construções sob o solo onde pisa.
“Este lugar gera todo tipo de sentimento. Foi citado em filmes como 'Caçadores da arca perdida' e livros como 'O Código da Vinci'”, afirma. Depois de mencionar os rumores de que a famosa Arca da Aliança está debaixo de al-Aqsa, ela esclarece que “a única coisa certa é que debaixo destas pedras há um apaixonante mundo subterrâneo”.
Dizem que no antigo templo judeu estava a arca de madeira que continha as Tábuas da Lei, que Deus entregou a Moisés, segundo a Bíblia. Outros relatos contam que ela foi levada a Jerusalém pelo rei David e que tem poderes especiais, mostrados quando os judeus deram sete voltas ao redor de Jericó e derrubaram as suas muralhas.
Treibish acrescenta que recentemente notou um aumento no número de judeus ortodoxos nacionalistas que se aproximam da esplanada para suas orações. A tendência incomoda o Waqf e mantém em alerta a Polícia, já que em questão de segundos uma revolta pode explodir.
No dia 6 de fevereiro, Israel começou, sob rígidas medidas de segurança, as obras para renovar um dos acessos à Esplanada. Mas os líderes islâmicos palestinos consideraram a iniciativa uma ameaça à mesquita de al-Aqsa.
Em 12 de fevereiro, o prefeito de Jerusalém, Uri Lupolianski, mandou suspender as obras, devido às queixas de milhares de muçulmanos do mundo inteiro. Agora a polêmica está do lado judeu, com as queixas dos arqueólogos israelenses.
Fonte: G1