Sempre que venho ao Líbano, quando uma pessoa descobre que tenho origem libanesa, ela faz logo duas perguntas – 1) De qual cidade é minha família e 2) Qual a minha religião.
No Líbano, a religião não é algo que define apenas quem você é. Mas também o que você pode ser. Por exemplo, se você for muçulmano ou druso, estará automaticamente impedido de ser presidente do país. Este cargo é restrito aos cristãos maronitas. Isto é, ser cristão apenas não adianta. Cristãos ortodoxos, melquitas, armênios ortodoxos, armênios católicos, assírios, caldeus, coptas, católicos romanos e protestantes também nascem sabendo que a Presidência é algo que eles nunca vão alcançar. O mesmo vale para o posto de chefe das Forças Armadas – tem que ser cristão maronita.
Para ser premiê, tampouco basta ser muçulmano. Tem que ser muçulmano sunita. Para os xiitas, resta o cargo de presidente do Parlamento. Aliás, não custa lembrar que o Parlamento também é dividido entre muçulmanos e cristãos. O mesmo vale para o Ministério.
Com essas informações em mãos, já sabemos que o presidente do Libano, Michel Suleiman, é cristão maronita; o premiê, Fuad Siniora, é muçulmano sunita; e o presidente do Parlamento, Nabi Berri, é muçulmano xiita. Porém, apesar de terem esses cargos, eles não são necessariamente as figuras mais proeminentes de suas religiões.
O principal líder cristão maronita, em termos religiosos, é o patriarca Nasrallah Sfeir. Politicamente, os maronitas e cristãos em geral se dividem em uma série de facções, cujos principais líderes são os rivais Michel Aoun e Samir Gaegea. Mas há ainda as famílias Franjieh, Gemayel, Chamoun e outras.
Já o maior líder sunita hoje é Saad Hariri, principalmente pelo fato de ele ser filho de Rafik Hariri, ex-premiê que morreu em mega-atentado terrorista em 2005 que mudou a história do Libano (também será tópico de post no futuro).
Os xiitas, obviamente, têm como figura mais proeminente o xeque Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah. Apesar da popularidade da organização, o cargo de presidente do Parlamento historicamente fica nas mãos dos ex-inimigos e hoje aliados da também xiita Amal.
Os drusos, que não têm nenhum cargo relevante, são os que mais cegamente seguem seus líderes. O mais célebre deles é Walid Jumblatt. Mas ele não é unanimidade e muitos outros seguem a família Arslan.
Além da política, a religião define ainda com quem você pode casar no Líbano. Para um cristão casar com uma muçulmana (e vice-versa), um dos dois tem que se converter. Ou então, comprar uma passagem e se casar no civil no Chipre. O mesmo vale para herança.
Fonte: Estadão
Via: Notícias Cristãs