O Caio Fábio, famoso por ter se envolvido em um escândalo sexual com sua secretária, concedeu uma entrevista exclusiva a uma revista brasileira voltada ao público Punk. O conteúdo da entrevista é sobre sexo, onde o reverendo conta sua opinião e fala sobre o sexo na ótica evangélica.
Caio Fábio também afirma estar arrependido de seu primeiro livro sobre o tema, onde conta que com uma série de restrições na vida sexual conseguiu ter uma vida mais ligada ao espiritual. O líder do Ministério Caminho da Graça também diz ter perdido a virgindade quando tinha apenas 5 anos de idade, segundo ele sua primeira mulher foi uma babá de 13 anos.
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Esta edição do Fanzine fala sobre sexo, então é inevitável fazer algumas perguntas. Qual a função do sexo? E qual o lugar que ele deve ocupar em nossas vidas, e que importância ele tem pra nós?
Sexo é a expressão da vida como prazer e sabor. É o ápice da capacidade de sentir, trocar e experimentar todos os sentidos em plenitude. Sexo é bem mais que as pessoas imaginam. É mais que a penetração e as trocas físicas. Pouca gente sabe o que é a experiência sexual em plenitude. A objetização do ato quase sempre impede a viagem ao êxtase e à plenitude do prazer. O mergulho nas águas profundas dessa experiência demanda mais do que corpo. Demanda alma e espírito desinibidos e livres.
Sem profunda intimidade e espiritualidade, nunca haverá êxtase no sexo., mas apenas, no máximo, orgasmo. O sexo mexe com a essência humana, por isso sua objetização nos dissolve e sua supressão nos achata.
Sexo é parte essencial da vida e do crescimento humano de qualquer pessoa saudável. As exceções existem. São os seres celibatários. Tais exceções, não tendo sido estabelecidas pela repressão, devem ser tratadas como vocações a serem respeitadas, desde que haja voluntariedade e espontaneidade.
O senhor foi um dos primeiros evangélicos a falar sobre sexo em seus livros, e com uma linguagem acessível e próxima dos jovens cristãos, e sem ser doutrinária. A igreja evangélica tem se mantido como uma instituição extremamente repressora e vem colhendo muitos frutos contrários aos esperados. Por que os líderes evangélicos (você também se encaixa nisso), não contam suas experiências, percalços e frustrações na adolescência e juventude, e contextualizam a função do sexo para os nossos dias, ao invés de recorrerem a correlações diretas com passagens bíblicas que diziam respeito a sociedade judaica de no mínimo 20 séculos atrás?
Meu primeiro livro sobre o tema foi infantil. Foi escrito aos 22 anos de idade e após o “trauma da conversão”. Como “antes” eu poderia ser incluído na categoria dos “dissolutos”—minha atividade sexual começou muito precocemente—, com a conversão fiz um movimento inconscientemente pendular. Fui para o pólo oposto. Então saiu um livro meu que eu não recomendo para ninguém, chamado “Abrindo o Jogo Sobre o Namoro”. Aquele é um livro que deve ser lido ao contrário: quase tudo o que digo que não pode é justamente aquilo que a “conversão” fizera supressão em mim. Assim, minhas “proibições pessoais” viraram cartilha. Em três anos no máximo eu estava querendo tirar o livro do “mercado”. Ele não condizia nem com a Bíblia e nem a condição humana. Depois disso, entretanto, fiz palestras que viraram livros, e que são infinitamente mais próximos do mundo real. Mas tudo foi um processo. Sexo é tema de neurose no ocidente, e na comunidade evangélica ele atinge o clímax de sua expressão como enfermidade.
Eu perdi a virgindade com cinco anos de idade. Minha babá de 13 anos fez o serviço. Daí eu ter crescido sem nunca dissociar a mim mesmo da experiência sexual. O que acontece aos meninos aí pelos 15 ou 16 anos já estava instalado em mim desde sempre. O mais está contado em meu livro “Confissões de um Pastor”. Não posso ser acusado de “falta de contextualização” na minha abordagem sobre sexo e sexualidade desde os 25 anos de idade. E, no meu site, o www.caiofabio.net, tais expressões de “contextualização” atingiram sua plenitude até aqui. Quanto aos “frutos” que a igreja evangélica está colhendo, só posso dizer que são coerentes com a lógica da doença que nela se instalou: quanto mais reprimido for o consciente, mais tarado e adoecido será o inconsciente. A igreja evangélica é o “ente social” sexualmente mais enfermo que eu conheço no Brasil.
Promiscuidade sexual, relações homossexuais, com animais, objetos, masturbação, enfim; até onde o uso do corpo é normal e sadio, e segundo o padrão de quem?
Sobre esses temas eu recomendo uma visita ao meu site, especialmente à seção de Cartas. Lá trato de tudo, e do mais aberto possível, respeitando os limites da mídia em questão, a Internet. Lá só não publico minhas respostas às questões mais cruentas, como é o caso, por exemplo, de pessoas com a fixação em relacionamento com animais. E também poupo as pessoas das respostas sobre os “fetiches” sexuais.
Os limites para o corpo estão estabelecidos não nele mesmo, mas na alma. O corpo aceita quase tudo. A alma não. Desde o Éden que a mente humana cogita a possibilidade de encontro com animais. Foi Adão quem percebeu a “impossibilidade” de que isso gerasse algo sadio, e também à sua própria altura—conforme o Gênesis, e antes mesmo da Queda.
É interessante que na narrativa bíblica da criação,a mulher vem como resultado do homem não ter encontrado um par que lhe servisse. E não encontrou, sobretudo, porque no sexo há mais que possibilidade de acoplagem de pedaços do corpo. Tem que haver encontro de seres, de almas, de imaterialidades. Violar esse valor trás dês-construção para qualquer alma humana. Pecado é escolher, conscientemente, a doença como modo de viver.
Mas quando mecanismos de “bestialidade”, por exemplo, se instalam numa pessoa, nada ajudará tal individuo a sair desse buraco se não for justamente o oposto dele; ou seja: a total dês-tensão, que é o que desmobiliza a compulsão, a tara. Tenho casos de pessoas que buscavam animais para ter relações sexuais—gente de igreja e líderes—, e que só ficaram livres da compulsão depois que foram ajudadas a ver que aquilo não era moral, era psicológico. E que o “pecado” não é contra Deus, é contra elas mesmas.
A noção de pecado só ajuda um ser humano em duas perspectivas: quando ele consegue enxergar aquilo contra ele mesmo e como doença; e, sobretudo, quando ele fica sabendo que pode ter paz para caminhar até entrar na Paz em relação à questão. Ou seja: quando você tira a Lei e apresenta a Graça à pessoa, e ela descansa. Ora, tal descanso não dilui o ser, mas ao contrario, o fortalece para tratar a si mesmo sem os rigores da condenação do inferno, que quando presentes drenam toda sua energia para a construção do que seja bom.
Só então o indivíduo caminha para a pacificação e para a saúde. Nunca a repressão fará uma alma melhor. Somente a consciência descansada promove essa elevação.
As campanhas falam para usarmos camisinha , para evitarmos as dst´s. Até onde essas campanhas seriam verdadeiras, e o que deveria ser feito sobre o assunto?
As campanhas são importantes. A “igreja” não fala do assunto porque parte de uma lógica farisaica. Ele entende que falar significa estimular. Então, a fim de manter o “moralismo” não ajuda a impedir males bem maiores, e que atentam contra a vida. É o tal do “coem o mosquito e engolem o camelo”, acerca do qual Jesus falou. Nosso mundo não é ideal. É apenas real. E enquanto a “igreja” não parar de falar de um mundo que não existe na terra, ela vai estar apenas sendo a mais terrível e desumana participante dos processos que trabalham contra a realidade e a vida. A omissão da “igreja”, sempre presa à sua própria imagem, é o pior ídolo que é cultuado dentro dela mesma. A “igreja” cultua a si mesma: sua imagem e sua própria arrogância como “representante” de Deus. Jesus é apenas o pretexto para o culto de si mesma e para o rigor ascético da “igreja”. Ele diz glorificar a Jesus, mas não se dá conta de Ele é um estranho para ela, e que se entrasse porta à dentro sem dizer que era Ele mesmo, seria expulso logo a seguir.
Muitos cristãos defendem a teoria de que todo casal deve gerar pelo menos um filho para multiplicação da descendência. Essa interpretação das Escrituras já não estaria ultrapassada para os nossos dias, principalmente pela superpovoação do planeta e pela condição sócio-econômica de muitos casais; sem falar na miséria? Não seria muito mais justo a adoção, já que a descendência hoje não implica ter o mesmo sangue?
Ora, essa é uma idiotice “católica”. Nesse sentido os “evangélicos” são menos neuróticos. Pessoalmente esta sempre foi a minha tese. Gênesis 2: 24-25 nos diz que homem e mulher deixam pai e mãe, se unem, e tornam-se uma só carne. Isto é casamento. O “crescei e multiplicai” foi falado numa terra onde não havia humanos. Nos dias de hoje seria: “Gerai responsavelmente, e adotai generosamente”. Eu tenho uma filha adotada. E sei que não existe diferença. O sangue é menos que um detalhe.
O senhor teve um caso extraconjugal que lhe rendeu a exclusão do rol dos grandes líderes evangélicos. Eles não mereciam você e escolheram você como um bode expiatório, ou você se entregou para o sacrifício?
Eu não tive um caso extraconjugal. Tive um relacionamento conjugal. Meu “casamento formal”, aos 19 anos, foi muito mais um caso “extra-conjugal” que o “acontecido”, e que “escandalizou” a tantos. Veja como uma coisa é a “aparência” e outra é a “verdade do coração”. Quanto ao “bode” ou ao “cordeiro”—qualquer deles vão para o “sacrifício”. Creio que fui um pouco de ambos.
De um lado o “bode” carregou a projeção das doenças e sombras de uma comunidade que fala de luz, mas prefere as trevas; fala de verdade, mas prefere a mentira; fala, mas vive de “imagem”.
De outro lado, houve a opção de não deixar a minha vida presa ao circo das imagens, ao presépio das falsidades e das farsas. Ninguém me flagrou fazendo nada. Eu contei. E, pela misericórdia de Deus, sobrevivi até aqui às conseqüências. Mas não há nenhuma “messianidade” no meu ato. O fiz por mim mesmo. Não pedia a Deus que aquele fosse um ato “vicário”, e nem tampouco o fiz num acesso de altruísmo, visando abrir caminho para milhões que vivem no jugo da mentira. O que vem acontecendo depois, com milhares e milhares de pessoas me procurando para “abrirem” o coração, é pura continuidade da Graça de Deus. Mas não foi premeditado por mim. Quanto ao “rol dos grandes lideres”, nunca estive lá por conta própria. Fui e sou um caso de tirania da Graça de Deus. Passei a vida falando as coisas que aqui digo, e quanto mais as digo, as faço e as falo, mas sou ouvido. Até os meus “inimigos” sabem que o que estou dizendo corresponde à realidade. Eles não gostam apenas porque fazem parte dessa “coisa”, não porque possam contestá-la, ou dizer que estou exagerando.
Depois de ter seu nome envolvido num escândalo político que denegriu sua imagem, qual a lição que você tirou de tudo isso? E o que você diria pra quem está começando um trabalho social hoje e se vê obrigado a lidar com burocracia e política?
Nunca confie em nenhum político. Nem nos melhores. E, especialmente, nos mais ideológicos. Esses são os que mais cultuam as suas próprias imagens, e o deus deles pode se camuflar com as roupagens da “ética”; mas, ainda assim, não passa de culto à imagem. Nesse caso sim, mesmo reconhecendo que um homem com minha consciência não poderia ter si permitido ir até onde me foi insistentemente solicitado, sei que a responsabilidade pelo “desfecho” foi de “alguns amigos”, políticos, e que me atormentaram durante meses insistindo em que eu “apurasse” para eles a história. No final fiquei sozinho, e tenho poupado o nome deles até hoje. E por que? Porque aprendi que antes de ser cristão o sujeito tem que aprender a ser homem, e também que cada um faça na vida as suas próprias retratações. As minhas estão feitas. As deles, Deus sabe, ainda estão todas por serem feitas.
Fonte: Gospel+
Com informações de Fanzine e Caio Fabio