Depois de toda a polêmica envolvendo o lançamento de seu novo livro, Rob Bell decidiu falar.
Primeiramente, o líder da igreja Mars Hill falou em uma entrevista transmitida pela internet. Depois, em diferentes programas de TV e para vários veículos de comunicação.
Selecionamos dois desses momentos: o primeiro é o vídeo de uma entrevista ao programa de Martin Bashir na MSNBC.
Bashir: Este livro que você escreveu gerou controvérsia porque a implicação é que, como você coloca, o amor de Deus acabará por derreter os corações de todos. Você é um universalista que acredita que todos podem ir para o céu, independentemente de como respondem ao chamado de Cristo na Terra?
Bell : Eu diria que não. Essa é uma das perspectivas dentro da tradição cristã. Sempre houve um grande número de pessoas que disseram que, com tempo suficiente, Deus ganharia a todos. Mas uma das coisas que deixo bem claro no livro, e quero todos entendam, é que a tradição oferece todas estas opiniões diferentes: todos serão conquistados X alguns vão continuar a resistir ao amor de Deus. Os cristãos historicamente têm discordado dessa especulação.
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Bashir: Você alterou o evangelho para que seja mais palatável para o homem contemporâneo pois, por exemplo, essa idéia de céu e inferno é muito difícil de engolir?
Bell: Não, eu não fiz isso. Há um capítulo sobre o inferno. Ao longo do livro trato sobre nossas escolhas e as decisões que tomamos para estender o amor aos outros ou não, as maneiras como resistimos ou nos abrimos para o amor de Deus. Essas coisas são extremamente importantes.
O segundo é uma entrevista publicada pela revista Relevant. Tradução de Agência Pavanews.
Relevant: Você está magoado com o que tem sido falado sobre você e suas idéias?
Rob Bell: Quando você dá sua vida para tentar compartilhar as Boas Novas de Jesus com um mundo que precisa desesperadamente ouvi-las, e então alguém anuncia que está contra suas ideias, isso o leva a ter uma profunda confiança em Deus, porque precisa confrontar a sua impotência. Isso é uma coisa pessoal, íntima. Sim, há um aspecto muito pessoal nisso tudo… Eu fiz uma escolha. Todos temos a opção de usar termos negativos. Você pode atirar as pedras de volta e tornar-se igualmente cruel e perverso, ou pode permitir que essa dor o transforme em uma pessoa que ama seus inimigos, que está mais aberta e mais humilde. Não há outro caminho. Ou você se torna igualmente amargo, covarde, irado e mau, ou a dor o empurra a um quebrantamento. Quando você está quebrantado, Deus pode enchê-lo de novas maneiras.
Como a sua teologia sobre o céu e o inferno evoluiu ao longo dos anos?
Uma das coisas que entendo é que o céu e o inferno na Bíblia são realidades presentes, são dimensões de nossa existência, são escolhas que podemos fazer todos os dias. Entendo que essas escolhas e realidades continuam depois da morte. Como um monte de gente, cresci pensando que o céu está em outro lugar no tempo e no espaço. Quando você morrer, Jesus é quem o leva para esse outro lugar. Tudo isso surgiu de meus estudos das Escrituras e minha convivência com pessoas de toda tipo de reflexão cristã. Minha consciência crescente é que Jesus, no mundo em que viveu, a questão não era uma evacuação do planeta, ou “como posso sair daqui?”
A história predominante na Bíblia é a de um Deus que deseja restaurar, renovar, reconciliar e redimir o mundo, que é a nossa casa. Essa é uma narrativa diferente, um entendimento diverso do que muitas pessoas foram ensinadas. Acredito que é a maneira de entender o que os escritores [dos Evangelhos] estão nos mostrando e o que Jesus veio nos ensinar. Esse é meu ponto de partida. No livro, fiz assim: “Aqui está cada versículo da Bíblia em que o inferno é mencionado. Aqui estão as verdadeiras palavras gregas. Aqui está a palavra ‘para sempre’. Aqui estão as palavras literais”. E tento ajudar as pessoas a verem o que a Bíblia realmente diz. Você é livre para acreditar no que quiser, mas não faça a Bíblia dizer coisas que ela não diz.
Um dos principais pontos da polêmica é as pessoas dizerem que você abraçou o universalismo. A maioria dos evangélicos acredita que, quando morrem, não há mais nenhuma decisão a se tomar. Você acha que sua posição é controversa?
Ela se encaixa perfeitamente dentro da ortodoxia, da tradição, da história cristã. Muitas outras pessoas já fizeram esse tipo de questionamento. Não é algo fora da tradição. No livro, o que mais me interessa é mostrar isso às pessoas, elas precisam responderam a essas questões. Fiéis sérios e devotos seguidores de Jesus foram confrontados com esses questionamentos e fizeram todo tipo de especulação com diferentes maneiras de pensar e falar sobre isso. Não estou interessado tomar partido. Quero apenas poder dizer: “Há muitas opções de pensamento, e há muito espaço entre um extremo e o outro”. Isso é o que me interessa.
Com base em sua compreensão do universalismo, você se considera universalista?Não, eu não me considero.
E o que você se considera?
As pessoas querem dizer muitas coisas diferentes com essa palavra. Para alguns, a palavra significa que nada importa. Não importa no que você acredita, não importa como você vive. Eu simplesmente não acredito nisso. Alguns caminhos são destrutivos. Alguns caminhos são errados. Alguns caminhos causam todo tipo de dano para outras pessoas e isso não é amar o próximo. Então, se por “universalismo” as pessoas querem dizer que nada importa, nem o que você acredita ou o que você faz, isso é uma besteira completa. Não creio assim.
Contudo, algumas vezes que as pessoas usam o termo ”universalismo” querem dizer que, em algum momento, Deus levará todo mundo para o céu. Tipo, “vamos lá, todo mundo para dentro”. O problema é que eu acredito que o amor vence, e a natureza do amor é a liberdade. Assim, se de alguma forma Deus retira sua capacidade de escolha, então não estamos mais lidando com um Deus amoroso. Se há pessoas que estão no céu e não querem estar lá, então não é o céu. Como se Deus dissesse: “É uma festa, você vai gostar!”
Acho extremamente interessante é que, como cristãos, devemos lidar com o que está escrito em uma das cartas a Timóteo: “Deus quer que todos sejam salvos.” Ora, isso é fascinante. Deus quer que todos sejam salvos, então talvez a pergunta mais importante é: “Então, Deus é um universalista?” Como cristãos, nosso dever é desejar as coisas que Deus deseja, e querer fazer as coisas que Deus quer.
As pessoas que discordam de você acreditam que estão certas. Elas vão para a cama à noite acreditando totalmente que não há margem para discussão. Existe uma chance que você possa estar errado?
Errado sobre Jesus? Que ele não é a nossa salvação, que ele não é o caminho, a verdade e a vida?
Não. Errado especificamente em sua leitura das Escrituras sobre o céu e o inferno.
Errado sobre a importância da questão? A necessidade absoluta de compreender a realidade do céu e do inferno e da urgência do convite de Jesus que nos adverte para escolhermos o céu agora? Essa parte?
Vou ser mais específico. Você acha que pode estar errado porque ninguém tem uma segunda chance de escolher o céu ou o inferno. Que, como os evangélicos acreditam, sua decisão aqui na terra é a única que importa?
Claro que sim. Não temos nenhuma prova em vídeo de alguém que morreu e voltou. Então, estamos apenas especulando sobre como tudo acontece. É isso que estamos fazendo, por isso a coisa mais importante é sermos honestos. E precisamos começar com humildade. Às vezes a questão é simplesmente: “Se isso é verdade, todos nós estamos realmente ferrados”. Teremos problemas muito maiores do que algum pastor dizer essas coisas, se no fim Deus acabar sendo algo diferente de amor ou de bondade. E o amor não vence, e não temos escolha… Acredito que as pessoas terão, as pessoas escolhem o inferno agora. Eu confesso: acredito que quando você morrer, pode escolher o inferno. Portanto, não estou negando o inferno. Tenho uma consciência muito clara de que essa é uma realidade visível e presente, que se prolonga em nosso futuro. Mas a verdadeira questão é, se milhões e milhões de pessoas que nunca ouviram falar de Jesus serão atormentadas para todo sempre por Deus porque não acreditaram em um Jesus de que nunca tinha ouvido falar. Então, nesse ponto teremos problemas muito maiores do que um livro escrito por um pastor de Grand Rapids.
Fonte: Pavablog