Líderes eclesiásticos iraquianos lançaram apelos pela libertação de um sacerdote caldeu seqüestrado no sudeste de Bagdá em 16 de agosto.
Em uma declaração por e-mail, o arcebispo de Kirkuk, Louis Sako, pediu a libertação do padre Saad Sirop da paróquia de St. Jacob, no distrito de Doura, em Bagdá.
O apelo citou o capítulo 5 do Alcorão, que determina que os muçulmanos protejam sacerdotes e monges. Louis Sako também observou que Saad Sirop era um bom homem, que pregava e praticava a paz e o amor.
“Acredito que haja duas razões para esse tipo de seqüestro”, disse ao Compass, por telefone, o arcebispo. “A primeira é dinheiro. Mas a segunda razão é que eles querem expulsar os cristãos do Iraque”.
O arcebispo disse que o distrito de Doura era uma área de maioria muçulmana sunita, com o significativo número de 3 mil cristãos. Ele afirmou que sunitas que chegaram à área, vindos de outras partes do Iraque, queriam tomar posse das casas de cristãos.
“Saad Sirop saiu da igreja e estava voltando para casa por volta das 6h30, quando seu carro foi parado por três homens mascarados e armados”, contou Louis Sako. “Eles o forçaram a entrar no carro em que estavam e deixaram o motorista do padre sozinho”.
O seqüestro do religioso foi relatado no dia seguinte nos sites de notícias “Buratha News” e “Aswat Al-Iraq”. De acordo com esse último, o Partido Iraque Islâmico pediu que os seqüestradores de Sirop o libertassem.
O bispo auxiliar católico caldeu de Bagdá, Shlemon Warduni, que está fora do país, também lançou um apelo pela libertação do sacerdote. Ele dirigiu-se diretamente aos seqüestradores, dizendo que o seqüestro de um clérigo que serve fielmente ao país não ajudaria a causa deles.
O padre Saad, de 30 anos, estava com uma viagem para Roma marcada para setembro, para completar o doutorado em filosofia, segundo Louis Sako. “Até agora não tivemos notícias dele”, confirmou o arcebispo.
Segundo seqüestro
Saad é o segundo sacerdote caldeu seqüestrado neste mês. De acordo com o arcebispo, o padre Raad Kashan, do distrito Battawin, em Bagdá, também foi raptado por um grupo em busca de resgate, cerca de duas semanas atrás.
O padre conseguiu escapar depois de três dias no cativeiro, prometendo retornar com o dinheiro do resgate. De acordo com o arcebispo, Raad Kashan partiu para a Alemanha para evitar represálias por não ter pago o resgate.
Muitos cristãos iraquianos acreditam que a violência contra eles é motivada em parte porque sua religião é vista como uma conexão com os países ocidentais que controlam o Iraque.
Os cristãos também são visados por administrarem lojas de bebidas e salões de beleza, coisas consideradas ofensivas pelos seguidores radicais muçulmanos sunitas e xiitas, que formam a maioria da população iraquiana de 25 milhões de pessoas.
Mas a violência contra os cristãos, estimados em 3% da população, nem sempre tem motivações religiosas.
Os cristãos também sofrem simplesmente por serem um “alvo fácil”, disse um sacerdote iraquiano que hoje vive fora do país.
Dois irmãos cristãos foram atingidos por tiros de terroristas em sua carpintaria em Mosul, em 12 de agosto, contou o padre Emanuel Youkhana. “Não há evidências de que eles foram alvejados por serem cristãos, mas o fato é que os terroristas sabem que quando suas vítimas são cristãs, não haverá vingança”.
Vítimas lucrativas
A série de seqüestros comuns na era pós-guerra com freqüência atinge os cristãos por razões puramente financeiras. Junto com os estrangeiros, os cristãos são vistos como vítimas lucrativas, cujas famílias, tradicionalmente de classe média, pagarão resgates altos.
Depois do seqüestro e libertação do arcebispo sírio de Mosul, em janeiro de 2005, não ficou claro se o rapto foi motivado pela religião ou pelo dinheiro.
Cristãos naturais do Iraque têm deixado o país nos últimos dois anos, na medida em que sua comunidade tem estado sob repetido ataque. Embora os números não sejam precisos, fontes próximas à Igreja iraquiana afirmam que dezenas de milhares de cristãos fugiram para a Síria e a Jordânia.
De acordo com um relatório da Sociedade Alemã para Povos em Risco, muitos dos cristãos iraquianos também estão deslocados dentro do país.
“Muitos do nosso povo estão indo em direção às áreas curdas do norte, porque é mais barato do que sair do país”, confirmou o arcebispo Louis Sako.
Uma série de explosões de igrejas em Bagdá, em agosto e setembro de 2004, desencadeou um êxodo dos cristãos para a Síria e a Jordânia. As explosões simultâneas de seis igrejas em Mosul e Bagdá em janeiro passado reforçaram essa tendência.
Mesmo assim, os ataques contra os cristãos no Iraque são simplesmente parte do cotidiano caótico da era pós-Saddam Hussein.
O recente aumento da violência em Bagdá motivou os Estados Unidos e o Iraque a enviar 50 mil homens para rastrear a capital em busca de membros de grupos insurgentes armados, segundo noticiou a agência Reuters em 16 de agosto, em meio a novos episódios de violência em Mosul e em Basra.
Fonte: Portas Abertas