A Teologia da Libertação quer ser ouvida na V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe. Enquanto bispos de todo continente se reunirão em Aparecida, a 167 km de São Paulo, intelectuais ligados à Teologia da Libertação realizarão um seminário em Pindamonhangaba, a cerca de 20 km do Santuário Nacional, com a presença do “pai” da Teologia da Libertação, Gustavo Gutiérrez.
Em Aparecida, o encontro dos bispos ocorrerá entre 13 e 31 de maio, com a abertura solene realizada pelo Papa Bento XVI. Em Pindamonhangaba, o Seminário Teológico Latino-americano será realizado entre os dias 18 e 20. O teólogo brasileiro Agenor Brighenti, que vai falar no seminário sobre “Os desafios para a Igreja no século XXI”, comenta que o encontro é uma forma de fazer “ecoar” em Aparecida as preocupações do continente.
“A sensibilidade maior (do Vaticano) não está em relação a nossas igrejas, mas está em relação à situação da Igreja no velho mundo, que passa por uma crise profunda”, afirmou o teólogo. “O objetivo é fazer sentir à assembléia (em Aparecida) que a Igreja da América Latina está acompanhando os trabalhos e está preocupada com os rumos de nosso continente”, disse o teólogo.
Para o especialista, o atual pontificado está mais marcado pelas preocupações com a realidade européia, do que pelos desafios do terceiro mundo. “É uma atitude compreensível dentro da conjuntura européia, mas nós respiramos outras preocupações e outras urgências.”
Brighenti afirma que o seminário não deve ser avaliado sob o ponto de um embate entre esquerda e direita dentro do catolicismo. Segundo ele, os intelectuais querem reafirmar um pensamento que liga a salvação completa anunciada por Jesus Cristo à libertação das opressões sociais.
Em março, o Vaticano repreendeu o teólogo salvadorenho Jon Sobrino por considerar que os escritos do intelectual davam mais ênfase ao lado mortal de Jesus Cristo e que eram errôneos e perigosos. “Estamos vivendo um tempo eclesial marcado por uma certa perplexidade e uma certa involução em relação ao Concílio Vaticano II”, diz Brighenti.
Leigos militantes
O encontro em Pindamonhangaba é promovido pelo Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNL). De olho na Conferência de Aparecida, o grupo de leigos lançou o Manifesto do Povo de Deus, no qual mostra sua expectativa em relação às diretrizes que serão formuladas para a igreja.
“A América Latina e o Caribe vivem a expectativa da superação das estruturas injustas, agravadas, atualmente, pelo sistema neoliberal. (…) Entretanto, o abismo entre ricos e pobres continua sendo uma afronta ao Deus Pai-Mãe da humanidade e manifesta a contradição com o ser cristão”, afirma o texto.
O manifesto ainda destaca a importância da opção pelos pobres defendida nas conferências anteriores, defende a maior participação dos leigos na estrutura da Igreja e afirma que a Igreja deve colaborar na solução dos graves problemas que afetam a maioria da população.
Fonte: G1