O Pontifício Conselho “Cor Unum” publicou um documento sobre a “Fome No Mundo”, para ajudar a tomar consciência deste grave problema que aflige centenas de milhões de homens no mundo, para convidar a refletir sobre as suas causas e sobre a sua implicação ética e moral que interpela a todos, e para exortar à ação sob uma perspectiva humanitária e solidária.
Para tomar consciência do problema da fome no mundo, o documento apresenta diversos elementos. Estudos publicados indicam que a pobreza se estende como mancha de óleo em muitas regiões da terra: cada dia mais famílias começam a fazer parte da categoria daquelas que vivem na pobreza, e muitas caem além do limiar da extrema pobreza, precipitando na miséria. O empobrecimento, o endividamento e as reorganizações estruturais, como altos custos sociais, debilitam mais ainda a já deficitária dieta alimentar dos pobres.
Dados objetivos e sérios fornecidos por organismos competentes indicam que cerca de 800 milhões de seres humanos sofrem por causa da fome e da subalimentação e, ao mesmo tempo, afirmam que o planeta pode oferecer a cada um a ração de alimentos necessária. A fome não é só uma ameaça para a vida da pessoa, mas mina também gravemente a sua dignidade. A fome prejudica o bom funcionamento do organismo, debilita as suas defesas, compromete gravemente as suas capacidades intelectuais, e pode até desencadear uma conduta agressiva e cruel; com muita freqüência, as crianças e os idosos são as primeiras vítimas desta situação tão degradante.
A subalimentação está também relacionada com a pobreza e a ignorância. Ela compromete gravemente o presente e o futuro de inteiras famílias e populações; sendo mal alimentadas, estas não conseguem o pleno e adequado desenvolvimento físico e intelectual, e são condenadas a lutar no futuro em condições de inferioridade, repetindo-se o círculo vicioso da miséria.
A fome e a subalimentação criam condições propícias para a difusão de doenças e de epidemias, que complicam e agravam a já frágil condição dos pobres. As populações empobrecidas, atingidas pelo flagelo da fome e da subalimentação, sobretudo nos países do terceiro mundo, têm muitas vezes a tarefa de produzir os alimentos que provêm da agricultura. As condições a que estão submetidas estão na base da sua escassa renda, e os pobres meios de que dispõem aceleram a erosão e o esgotamento do solo: põe-se assim em perigo a segurança alimentar de inteiras populações. A fome gera fome. O problema da fome no mundo não é um problema novo, mas hoje é ainda mais clamoroso e vergonhoso: ele interpela a consciência de todos, porque com os progressos da ciência e da tecnologia se tornou um problema que se pode resolver.
Fonte: Gazeta do Sul