Líderes manifestam preferência por candidatos, mas seguidores dizem ter liberdade no voto. Fiéis dizem que temas como aborto e casamento gay influenciam seus votos.
A corrida pelo voto evangélico nas eleições deste ano mobilizou pastores de igrejas por todo o Brasil, mas fiéis que frequentam cultos no Rio de Janeiro dizem nem sempre seguir a orientação de seus líderes religiosos na hora de votar, embora admitam que temas sensíveis à religião influenciem a decisão.
Em dois cultos visitados pela BBC Brasil no Rio, o apoio dos líderes é declarado.
Na Assembleia de Deus dos Últimos Dias (ADud), no município de São João de Meriti, o pastor Marcos Pereira entrou na campanha de Dilma Rousseff (PT) após apoiar Marina Silva (PV) no primeiro turno.
Já na Assembleia de Deus Vitória em Cristo, no bairro da Penha, o pastor Silas Malafaia se declara pró-José Serra (PSDB) desde o início da disputa.
“É lógico que, antes, eu preferi apoiar a Marina, porque ela é evangélica”, afirma Pereira. “Com isso, acho que agregamos pelo menos uns 80% dos votos da comunidade para ela.”
“Agora, com a Dilma, creio que através da nossa pessoa ela consiga uns 3 milhões de votos. Vai balançar”, aposta o pastor, que é conhecido por seu trabalho com presidiários e se autointitula “o pastor que cuida de mendigo, encarcerado, drogado, crackudo”.
A popularidade rendeu ao cantor Waguinho, ex-pagodeiro e parceiro de Pereira no trabalho social, mais de 1,3 milhão de votos na corrida para o Senado.
Vídeos no YouTube
Já o pastor Silas Malafaia declara seu apoio a Serra não apenas aos fiéis que frequentam a sua igreja – no último domingo, eram mais de 2,5 mil pessoas reunidas em canto vigoroso – como também a seus seguidores no Twitter, aos telespectadores do programa Vitória em Cristo (transmitido por três emissoras de televisão) e a quem assiste a seus vídeos no YouTube.
Em um deles, Malafaia comenta a postura de cada candidato em relação ao aborto e ao projeto de lei criticado pelos evangélicos por buscar criminalizar o preconceito contra homossexuais, entre outras minorias.
“Oriento os fiéis a avaliarem a proposta de cada candidato, no que ele acredita, com que está comprometido, o que quer para o Brasil. E repito sempre: ‘você é livre para votar em quem quiser, o pastor não é dono do seu voto. Não vai ter anjo na urna fiscalizando'”, diz Malafaia, que conta ter dedicado 30 de seus programas à conscientização sobre a importância de exercer a cidadania nas eleições.
Os temas do aborto e do casamento gay são citados por muitos fiéis como decisivos para suas escolhas.
Na igreja de Marcos Pereira, o motorista André Vidal, de 35 anos, conta que acabou de cumprir oito anos de prisão, se converteu evangélico há um mês e também mudou seu voto para Serra.
Vidal diz que desistiu de votar na candidata do PT porque, em suas palavras, “no começo das eleições, ela estava querendo apoiar o aborto e o casamento de mesmo sexo”.
Oportunidade
O bispo Manoel Ferreira, presidente da Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil, é coordenador da campanha evangélica de Dilma Rousseff e diz que o voto pode variar muito de uma denominação para a outra.
De acordo com Ferreira, a orientação política não é transmitida na hora da liturgia. “Mas, nos momentos logo após o culto, a gente tem a oportunidade de falar às lideranças, e assim isso chega lá na base do povo”, diz.
No culto da noite da última segunda-feira, o pastor Marcos Pereira não falou em política. Durante as orações, ele “libertou” fiéis que foram para o altar no fim da cerimônia, fazendo-os cair após prensar sua mão contra suas testas.
Pereira também conclamou uma prece fervorosa entoada por toda a comunidade em prol da conversão do traficante Marcinho VP, que está preso no Paraná e cujos filhos e esposa estavam no culto. O casal de adolescentes, que no ano passado lançou um CD, cantou para os fiéis.
Consciência
Apesar de o posicionamento político dos pastores ser conhecido, nem todos os fiéis seguem o mesmo caminho na hora de votar.
A manicure Mônica Lima dos Santos, de 43 anos, ainda não definiu seu voto, mas diz que “na hora, com certeza, a consciência vai pelos projetos, não tem nada a ver com religião”. “Religião é uma coisa, política é outra”, completa.
Na igreja de Malafaia, também há indecisos entre os fiéis. O mecânico Josuel José, de 43 anos, diz que só vai decidir na hora do voto.
“Aqui as pessoas são livres para votar. Claro que procuram ter informações no meio para decidir, porque há confiança entre os fiéis. O pastor Silas conhece muita gente importante e dá um norte para a gente se orientar”, afirma
Mesmo sem saber em quem vai votar, a desempregada Jacqueline Hollanda, 42 anos, afirma que a consciência política entre os evangélicos aumentou durante a campanha.
“Antes, diziam que era pecado se envolver com política. Hoje, sabemos que é importante formar opinião como cidadãos e temos consciência de que podemos mudar a história da política”, afirma a fiel da igreja de Malafaia.
Fonte: BBC Brasil / Gospel+
Via: Folha Gospel