Não é de hoje que o Partido dos Trabalhadores busca avidamente informações comprometedoras para desqualificar quem lhe é incômodo politicamente. Pelo relato do pastor evangélico Caio Fábio D’Araújo Filho, assim foi na campanha presidencial de 1998. A diferença é que naquela ocasião o PT conseguiu tirar a tempo o corpo da linha de tiro.
Quem se deu mal mesmo foi Caio Fábio, acusado de intermediar o Dossiê Cayman, uma papelada que comprovaria que Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Sérgio Motta e Mário Covas mantinham centenas de milhões de dólares em um paraíso fiscal no Caribe. As investigações desqualificaram os documentos como pura armação.
O reverendo alcançou na década de 1990 um status inédito: foi um líder evangélico respeitado em todo o País. Com a Fábrica de Esperança, um ambicioso projeto social em Acari, no Rio, Caio Fábio foi incensado pela mídia e se acostumou a receber visitas ilustres. FHC, por exemplo, apareceu lá em janeiro de 1995, no início do primeiro mandato. Mas todo prestígio desmanchou no ar com o escândalo do dossiê.
Segundo Caio Fábio, em meados de 1998 Lula fez uma visita à Fábrica de Esperança. “Naquele dia apareceu lá um cara que Lula conhecia há muito mais tempo do que eu e que tinha sido a pessoa que me contou a história de Cayman na Flórida. Eles se abraçaram como velhos amigos. Esse indivíduo me disse: ‘Reverendo, eu não disse pro senhor que é todo mundo igual? Contei aquela história pro Lula e ele está louco atrás daquilo’. Depois o próprio Lula me abordou: ‘Como você não me conta uma coisa dessas?”
A partir daquele momento, líderes do PT passaram a pressioná-lo. “Havia ligações, meia-noite, todo dia, às vezes a Bené (Benedita da Silva) estava chorando: ‘Meu reverendo, pelo amor de Deus salva a gente. Sem essa história o Lulinha não vai ganhar. Nós jamais vamos conseguir. Não deixa a gente nessa, pelo amor de Deus.’ Deus é minha testemunha, e as contas telefônicas também, de quem ligava pra quem. Até mesmo o José Dirceu veio ao Rio conversar comigo. A covardia foi tão grande que à medida que o tempo foi passando, e ficou patente que a papelada era uma grande operação de falsificação, eles foram transferindo tudo para as minhas costas.”
Processado por calúnia por Fernando Henrique, Caio Fábio só se viu livre das acusações no ano passado – inocentado pelo depoimento de Eduardo Jorge, ex-secretário de FHC. Aos 51 anos, casado pela segunda vez, rompido com o meio evangélico e líder de uma comunidade cristã alternativa com 3 mil membros em Brasília, Caio Fábio está recomeçando. “Minha reclusão passou da hora de acabar. Mas nada quero com temas políticos, só quero propagar a fé bíblica”, diz. “Em 1998 eu fui deixado com uma mão na frente outra atrás por um PT que posou de ético. E é tudo mentira. O pessoal do PT é que ficou atrás de mim.”
Fonte: Último Segundo