O mundo voltou suas atenções ao encontro entre o presidente Donald Trump e o ditador norte-coreano Kim Jong-un nesta terça-feira, 12 de junho, em Singapura, para assinatura de um acordo de paz e desnuclearização da Coreia do Norte. Ao mesmo tempo, cidadãos que desertaram do regime têm se dedicado a enviar, de maneira rudimentar, ajuda aos conterrâneos que sofrem com a fome.
De acordo com informações do portal britânico Express, um grupo de ativistas jogaram 500 garrafas plásticas, cheias de arroz e outros suprimentos, no mar próximo à fronteira entre as Coreias. A atitude é baseada na esperança que, com a mudança da maré, a ajuda desesperada chegue à outra margem e seja encontrada por cidadãos famintos.
O desesperado esforço de socorro foi organizado por um grupo de desertores norte-coreanos que foram autorizados a se estabelecer na Coreia do Sul. As garrafas continham um quilo de arroz, drives USB contendo entretenimento sul-coreano, notícias anti-norte-coreanas e uma mensagem cristã.
As garrafas foram jogadas no mar de uma ilha próxima à zona desmilitarizada entre os dois países. As condições na Coreia do Norte são duras, com as sanções da ONU visando impedir o programa nuclear do ditador Kim Jong-un. No entanto, essas medidas começam a impactar os cidadãos comuns, que estão lutando para sobreviver na miséria.
Mais de 30 mil pessoas desertaram para o sul e muitos deles citaram a fome como uma das principais razões para deixar a Coreia do Norte. Segundo um relatório da ONU, cerca de 70% da população do país depende da assistência alimentar para sobreviver, incluindo 1,3 milhão de crianças com menos de cinco anos de idade.
Somente os legalistas do Partido Comunista são autorizados a viver na capital Pyongyang e aqueles em cidades menores ou em áreas rurais são forçados a ganhar a vida. Relatos apontam que soldados foram ordenados a roubar plantações dos campos dos agricultores para subsidiar suas escassas dietas e a saúde precária de um desertor recente apontava para a desnutrição crônica.
O cenário já foi pior. Nos anos 1990, centenas de milhares de norte-coreanos morreram após uma combinação de mau tempo, má administração agrícola crônica e o fim dos subsídios alimentares da União Soviética, que formava uma aliança comunista com a dinastia que governa o país.
O cenário desesperador de fome generalizada chocou o mundo à época, mas os efeitos colaterais persistem. O Sistema de Distribuição Pública do Estado de racionamento entrou em colapso e nunca recuperou totalmente sua capacidade de alimentar a população.
De acordo com o Programa Mundial de Alimentos da ONU, 18 milhões dos 25 milhões de habitantes da Coreia do Norte dependem do racionamento estatal, e estima-se que um número igual de pessoas sofra com a pobreza alimentar, com 41% da população sendo subnutrida.
Há temores de que os horrores da fome – um período que os líderes do país chamam de “Marcha Ardente” – possa retornar à medida que as sanções comerciais impostas em resposta ao programa de testes de mísseis nucleares de Kim Jong-un começarem a surtir ainda mais efeito e a escassez de alimentos piorar.
A colheita do ano passado foi considerada particularmente fraca, de acordo com um relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação que mostrou que as chuvas entre abril e junho foram menores que no mesmo período de 2001, quando a produção de cereais atingiu uma baixa sem precedentes.
Por isso, o acordo de desnuclearização negociado de maneira firme e heterodoxa por Donald Trump pode significar, na prática, a salvação de centenas de milhares de vidas na Coreia do Norte.