SÃO PAULO – A prisão de Estevam e Sonia Hernandes nos Estados Unidos, líderes da Igreja Renascer, está provocando uma migração de fiéis para igrejas evangélicas menores. Decepcionados com as denúncias de estelionato e lavagem de dinheiro contra os bispos, eles buscam ajuda espiritual em outras casas de oração. O movimento é visível nos templos, já que há cada vez mais bancos vazios durante os cultos. A igreja nega o esvaziamento e diz que mantém 600 templos no Brasil. No passado, entretanto, a igreja chegou a ter cerca de 1.200 no Brasil e no exterior. Mesmo cumprindo prisão domiciliar nos EUA, a bispa Sonia continua pedindo doações nos cultos através de um telão.
O empresário Amaro Cezar Florêncio Pinto, de 42 anos, foi um dos que deixou a igreja. Em 11 anos de Renascer, ele chegou a desembolsar dízimos mensais de até R$ 5 mil.
– A Renascer é uma empresa com metas – justifica.
Um dos pastores da Renascer pediu afastamento por email.
O também empresário Amaro Pinto saiu da Renascer em 2004. Ele freqüentava o templo do Jabaquara, na zona sul, e conta que cansou dos desafios com metas de arrecadação.
– Tinha fiel que dava o dinheiro da passagem do ônibus e voltava a pé para casa. Enquanto isso, os bispos e pastores saíam do estacionamento em carros importados – denuncia o empresário. Hoje, Florêncio integra uma igreja com cerca de 250 fiéis. Acredita que, no novo ambiente, a palavra de Deus é levada a sério.
O contra baixista Igor Cavalcante, 29 anos, é outro dissidente da Renascer. Ele abandonou a filial de Diadema, no ABC, no final do ano passado, porque, segundo ele, o dinheiro arrecadado não era aplicado na estrutura da igreja.
– Tínhamos de fazer vaquinha para consertar equipamentos musicais e até para comprar o lanche do bispo. Não é Deus que está enchendo o bolso, é só uma família – disse.
Hoje, Cavalcante se considera um evangélico não-praticante.
– Se voltar para uma igreja, não serei mais voluntário- diz.
Ele considera branda a condenação aplicada ao apóstolo Estevam e à bispa Sônia pela Justiça americana.
– Deviam pegar pelo menos 30 anos de cadeia.
O professor Paulo Romeiro, da pós-graduação em Ciências da Religião da Universidade Mackenzie, confirma que há uma evasão na Renascer depois das acusações contra os fundadores.
– Muita gente montou grupos de oração e estudos bíblicos – diz Romeiro.
– Basta assistir à Rede Gospel (canal da Renascer na TV paga) para observar que os bancos das igrejas estão vazios – completa Leonildo Campos, professor da Universidade Metodista de São Paulo.
A solução encontrada pela analista de crédito Iara Caetano, de 34 anos, foi participar aos sábados de um grupo de oração com 20 pessoas. Quando se sente mal, ela liga para o orador e reza pelo telefone, ajoelhada.
– E ele não pede um centavo.
Segundo a Renascer, neste momento, a igreja vive um crescimento muito grande e fiéis que estavam em 'dúvida, dada a grande enxurrada de notícias sobre os fundadores, estão voltando. Um dos indicadores desse retorno seria a Marcha para Jesus, que tema Renascer como uma das organizadoras, que esta ano reuniu mais gente do que em 2006.
Os fundadores da Renascer, Sônia e Estevam Hernandes, cumprem pena de 140 dias, em regime fechado, e cinco meses de prisão domiciliar por entrarem nos Estados Unidos com US$ 56 mil não declarados à alfândega americana. No Brasil, o casal é acusado de estelionato e lavagem de dinheiro.
Fonte: O Globo