“Descobri o cristianismo acidentalmente”, diz a jovem marroquina. “Encontrei uma Bíblia na mesa de cabeceira no quarto de um hotel francês e o que eu li mexeu comigo. Na mesma viagem, encontrei um cristão marroquino e tivemos uma longa conversa.”
A mulher, que prefere permanecer anônima, a quem chamaremos de Lina, se converteu ao cristianismo.
Mas, como centenas de irmãos na fé, ela tem de praticar sua religião em segredo no muçulmano Marrocos.
Neste momento, os cristãos marroquinos estão se preparando para celebrar o Natal clandestinamente em casa, possivelmente junto com um pastor que também tem de esconder sua fé.
“Temos de viver como se fôssemos criminosos”, diz uma jovem cristã de Casablanca. Aqueles que revelam sua conversão correm o risco de ser banidos por suas famílias e marginalizados por suas comunidades.
É impossível determinar o número exato de cristãos no Marrocos, mas uma coisa parece certa: praticamente todos eles são protestantes.
“O protestantismo é uma escolha individual, ao passo que alguém se torna católico quando nasce”, disse uma convertida chamada Sofia.
Os cristãos estão divididos entre aqueles que realizam suas cerimônias em árabe e os que o fazem em francês. Os dois grupos têm pouco contato um com o outro.
Igrejas para estrangeiros
Alguns dos cristãos descobriram sua religião acidentalmente, enquanto outros se converteram através de igrejas, a maioria batistas oriundas dos Estados Unidos, que anualmente enviam dezenas de missionários ao Marrocos.
As igrejas também usam websites e doam dezenas de milhares de dólares anualmente para associações e pessoas que divulgam sua doutrina.
“É possível que algumas pessoas se convertam dessa maneira, mas eu nunca ofereci dinheiro em troca de conversão”, diz Sofia. “As autoridades precisam, com urgência, abrir um diálogo com os cristãos do país a fim de evitar que as pessoas se juntem a seitas”, acrescenta ela.
Os convertidos são batizados secretamente nas igrejas do Marrocos, que são reservadas aos estrangeiros.
Convertidos como Sofia enfatizam que não querem que sua fé ofenda a sociedade marroquina ou o islã. A lei do país não proíbe conversões para outras religiões, embora apenas o judaísmo seja reconhecido oficialmente, além do islamismo.
As autoridades marroquinas estão cientes das atividades cristãs, e aparentam ter se tornado mais tolerante para com elas.
“Antes, a polícia costumava nos chamar para interrogatórios e nos vigiava de perto, quase nos molestando”, explica Lina. “Agora parece que eles querem nos proteger das agressões de (muçulmanos) fanáticos.”
Tradução: Cristina Ignacio