Desde a última terça-feira, quem circula pelas ruas de Guarapuava, na região central do Paraná, se depara com outdoors do ex-deputado Fernando Ribas Carli Filho, de 26 anos, agradecendo às orações que recebeu pela recuperação de sua saúde. Com a frase “Agradeço a Deus pela vida e a todos que estão orando por mim”, os cerca de 20 outdoors, ao custo médio de R$ 200 cada, ficarão expostos por duas semanas nas principais ruas centrais e dos bairros de Guarapuava.
Para Gilmar Yared, pai de Gilmar Rafael, 26 anos, uma das duas vítimas mortas no acidente envolvendo o ex-deputado (a outra vítima foi Carlos Murilo de Almeida, 20 anos), os outdoors fazem parte de uma estratégia para sensibilizar a opinião pública.
O ex-deputado é acusado de dirigir em alta velocidade, depois de beber, e causar o acidente com o veículo onde estavam os dois jovens – os jovens Gilmar Rafael Yared, 26 anos, e Carlos Murilo de Almeida, 20 anos. A colisão ocorreu há dois meses, em Curitiba. E, devido à repercussão do caso, Carli Filho acabou renunciando ao cargo de deputado estadual – a primeira renúncia na história da Assembleia Legislativa do Paraná.
“É uma estratégia para que ele se transforme em uma pessoa arrependida e para mobilizar a opinião pública a seu favor. Mas nada vai esconder ou mudar os fatos. Ele estava dirigindo em alta velocidade, embriagado, e é isso que tem que ser deixado bem claro. O outdoor vai sensibilizar alguns, mas a população tem que julgar os fatos”, disse Gilmar Yared ao G1 nesta quinta-feira (9).
A mãe de Gilmar Rafael, Cristiane Yared, falou sobre a morte do filho: “Estamos muito sentidos, a dor é recente. Ele cortou os sonhos do nosso filho. Agora, temos que levar a vida adiante e tirar algo de útil de tudo isso para os que estão vivos. Vamos ensinar as crianças qual o caminho em que elas devem andar, para que haja pessoas mais dignas ao volante no futuro. Queremos que sejam cidadãos, antes de serem motoristas”.
O advogado da família, Elias Mattar Assad, diz que a manifestação do ex-deputado é direito dele, mas não acrescentará nada de útil ao processo. “Nunca vi um réu agir dessa forma. Do ponto de vista do processo, é irrelevante. Ele deve ter feito isso por questões religiosas”.
O G1 tentou entra em contato nesta quinta-feira (9) tanto com o assessor quanto com o advogado de defesa do ex-deputado, mas sem sucesso.
Imagem pública
Segundo especialistas em comunicação, as recentes manifestações públicas de Carli Filho indicam que ele começa a trabalhar para resgatar sua imagem pública.
Há duas semanas, o pai de Carli Filho, o prefeito de Guarapuava, Fernando Ribas Carli (PP), agradeceu a todas as mensagens de apoio e afirmou que o filho poderá voltar à política. Dias atrás, Carli Filho disse estar em busca de sua “missão” na Terra, demonstrou apego à religião após o acidente e afirmou esperar não ser alvo de um pré-julgamento.
Ao contrário das escassas manifestações dos Carli Filho até agora, nesses dois meses os familiares das vítimas do acidente realizam uma série de protestos e aparecem frequentemente na mídia para cobrar providências no caso.
O consultor de marketing Hudson José afirma que a sociedade começa a assistir a uma “guerra de mídia”, em que a figura do ex-deputado vai voltar aos meios de comunicação, depois de um distanciamento enquanto ele esteve internado.
Hudson José considera que as estratégias usadas por Carli Filho estão sendo corretas, do ponto de vista do marketing, para a recuperação de sua imagem. “Ele está se mostrando humano, frágil, fortalecendo sua figura como filho, e demonstrando fé”, afirma o consultor. “Tudo isso vai pesar no andamento do processo e do julgamento.”
Para o jornalista e consultor em gerenciamento de crises Carlos Brickman, o caso é complexo porque envolve morte. “Tudo bem ele espalhar cartazes agradecendo pelas orações. Mas quem vai orar pelos que morreram?”, questiona Brickman. Ele afirma que todos os fatos que envolvem pessoas públicas podem ser vistos de diversas maneiras. Neste caso, diz o consultor, o importante seria que Carli Filho emitisse uma carta pública afirmando que errou ou então que tentasse provar, por meio do inquérito policial, que não estava embriagado nem em alta velocidade.
Fonte: G1 / Gospel+
Via: O Verbo