Com uma extensão de 8 milhões de km², a região amazônica possui a maior bacia hidrográfica do planeta, o que gera, consequentemente, a maior rede fluvial do mundo, com aproximadamente 21.232 mil embarcações só no Pará, gerando com isso um número alarmante de acidentes por escalpelamento.
O escalpelamento é um acidente que ocorre quando o cabelo da cabeça humana é enroscado no motor de pequenas embarcações. Só no Pará, cerca de 40 mil desses veículos fluviais naveguem em condições clandestinas, segundo um levantamento feito pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa).
Do total de ocorrências de escalpelamento entre os anos de 1964 a 2023, 98% das vítimas foram mulheres, sendo um total de 207 casos, com 173 deles ocorridos entre 2006 e 2022.
Isto se deve ao grande volume de transporte de passageiros nas regiões ribeirinhas, onde os “ribeirinhos”, ou seja, moradores locais, costumam usar os trechos de rios para pesca, banho, lazer e etc.
De acordo com uma análise feita por Regiões de Integração (RI) do Pará, a maioria das ocorrências foram em Marajó, com 111 casos; seguida da RI Tocantins, com 53 casos; e posteriormente, com 19 registros, a RI Baixo Amazonas.
Evangélicas
Ainda de acordo com a Fabespa, do total de casos de escalpelamentos registrados, 56,5% das vítimas são mulheres evangélicas, o que pode ser explicado devido ao cabelo longo, mais tradicional na tradição pentecostal.
Damares Alves, ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, já havia observado a necessidade de políticas públicas para a prevenção do escalpelamento na região amazônica.
Foi pensando nisso que o governo lançou o o Programa de Enfrentamento ao Escalpelamento, em fevereiro de 2022, dando continuidade a uma ação iniciada no ano anterior.
“Estamos encontrando mulheres em cabanas, escondidas, que não sabem o mínimo direito que têm. Os gritos de dor ecoam pela floresta, mas muitas vezes essa mulher não tem acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), por exemplo. É por isso que temos que entregar ações concretas, para que seja possível mudar essa realidade”, disse a ministra na época.
A ação do programa consiste em prevenir os acidentes, por exemplo, incentivando o revestimento dos motores das embarcações, a fim de evitar que eles enrosquem no cabelo em caso de contato. Além disso, a ideia também visou a oferta de meios para o acolhimento humanizado das vítimas do escalpelamento.
“A entrega de perucas com cabelo natural é para amenizar um pouco o sofrimento. Mas o nosso objetivo é trabalhar para que nunca mais a gente precise fazer isso, já que nossas mulheres e meninas estarão protegidas”, concluiu Damares na ocasião, segundo o Governo Federal. Com informações: Agencia Pará.