Um movimento surpreendente de dissidência vem se organizando nos bastidores da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB) e poderá dar origem a uma nova entidade organizacional dos pastores assembleianos. A estimativa é que 25 mil sacerdotes da denominação migrem para a convenção a ser criada.
Ao longo dos últimos anos a CGADB tem sido o centro de constantes polêmicas que sempre terminam em batalhas judiciais. Em geral, o ponto de partida dos embates são as eleições para a presidência, vice-presidências regionais e demais cargos da diretoria. Samuel Câmara, opositor do clã Bezerra da Costa na entidade, seria parte do movimento de criação de uma nova convenção.
Câmara é pastor da chamada “Igreja-mãe” das Assembleias de Deus no Brasil, em Belém (PA), e nas últimas três eleições da CGADB, disputou com reais chances de vencer. Na última, em especial, o resultado que deu vitória ao filho do pastor José Wellington Bezerra da Costa (que comandou a entidade nos últimos 30 anos) é alvo de ação na Justiça por conta da validação de votos de 10 mil pastores que haviam tido seus registros anulados pela Justiça.
A notícia de que Câmara e outros 25 mil pastores estariam deixando a CGADB foi revelada primeiramente pelo portal JM Notícia, a partir do relato de uma fonte que aceitou falar sob sigilo: “É um caminho inevitável”, teria dito o informante. Câmara, que está há 33 anos na CGADB, teria chegado à conclusão de que essa seria a opção menos traumática, diante dos últimos escândalos.
O pastor André Câmara, filho de Samuel Câmara, deu declarações admitindo que existe realmente esse movimento, mas negou que a iniciativa seja de seu pai. “Isso é um movimento de todos os pastores do Brasil, é um movimento do Brasil, não é do pastor Samuel Câmara viu. O pastor Samuel Câmara não tem ingerência nisso, é uma coisa muita espontânea”.
Em outra declaração, dada ao portal GospelPrime, André afirmou que “é muito natural que pastores do Brasil inteiro estejam saindo e querendo se reorganizar em outras estruturas, pois não há espaço nem objetivos na atual gestão familiar e sindicalizada”.
“Muitos pastores do Brasil já saíram ou estão em processo de sair, mas de forma espontânea e pessoal. Parece inevitável que um movimento levantado por Deus aconteça para dar dinâmica e visão para pastores assembleianos”, acrescentou, frisando que a nova entidade seria “livre e fiel às ideias históricas da Assembleia de Deus”.
“A Assembleia de Deus é uma igreja e movimento que tem potencial de incendiar o Brasil para Jesus com apoio de uma convenção, mas nada se faz nos últimos 30 anos e aparentemente permanecerá assim. Friso que não estou falando da estagnação das igrejas da Assembleia de Deus, mas da convenção que tenta representá-la. Convenção é para servir a igreja, mas o que existe hoje é uma convenção que deseja ser servida pela igreja”, concluiu André Câmara.
A dissidência, pelo que se apurou, tem se encorpado por diversos estados brasileiros, com uma espécie de convocação a Samuel Câmara para que ele lidere a nova entidade em seus primeiros anos, implantando a visão que foi proposta nas eleições para a CGADB, mas que nunca teve a oportunidade de sair do papel. O pastor da AD em Belém do Pará não nega que tenha sido procurado por colegas de ministério e muito menos que possa liderar a nova convenção.