A polêmica envolvendo o recorde de bilheteria do filme Nada a Perder dentre as produções nacionais continua repercutindo na imprensa, que sugere haver uma campanha para inflar a real audiência do longa-metragem que conta a vida do fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, bispo Edir Macedo.
O jornal Folha de S. Paulo produziu uma reportagem sobre casos de alunos de escolas públicas que teriam sido levados aos cinemas, em horário de aula, para assistirem ao filme. No meio do turbilhão de críticas, a Igreja Universal sustenta suas declarações de que “nunca comprou” ingressos para Nada a Perder e que não tem influência sobre grupos voluntários que se organizam para levar “o maior número possível” de pessoas aos cinemas.
Um dos casos envolve o professor Marcelo Prudente, que dá aulas de Arte na Escola Estadual Maria José, na Bela Vista (zona central de São Paulo). No Facebook, Prudente relatou ter sido abordado por uma ONG para levar os alunos do período noturno para assistirem um documentário chamado “Superação”.
Ao chegarem ao local, o filme em questão era Nada a Perder. “Sem entender, fui até a ‘querida’ organizadora, tão ‘gentil’ em nos convidar, para entender o que se passava”, escreveu o professor na rede social.
“Ela me disse: ‘É um filme de superação, professor’. E eu, perplexo: ‘O quê? Esse é um filme de evangelização nojento, de um cara que não nos representa'”, disse o professor Prudente, em entrevista à Folha. Os alunos ganharam, além dos ingressos, “refrigerante e pipoca de R$ 5”.
Segundo o jornal, outros quatro professores relataram que as escolas estaduais onde trabalham também receberam ingressos. Um deles, Álvaro Dias Junior, afirmou que na Escola Estadual Dona Peretti, em Mogi das Cruzes (SP), a diretora, “estava obrigando os professores a irem [ao cinema], para acompanhar as crianças”.
A Secretaria de Educação do estado afirmou que cada escola é orientada a “avaliar o teor da atividade proposta por meio de parcerias”, e caso concluam que é pertinente com as ações extracurriculares previstas, “os pais são comunicados e, em comum acordo, podem aceitar ou negar a atividade”.
Universal reage
A igreja liderada pelo bispo Edir Macedo emitiu nota reiterando não ter comprado ingressos para a cinebiografia de seu fundador ou “qualquer outra obra”.
No comunicado, a denominação pontuou que o filme é uma “parceria da tradicional Paris Filmes com a Record Filmes”, e que não tem ligação direta com a produção, embora Edir Macedo seja o dono da Record. “E se fossem entradas para Os Vingadores ou uma produção da Globo Filmes, a Folha ficaria tão incomodada?”, questiona a nota.
Segundo a assessoria de imprensa da igreja, o “questionamento da Folha sobre a oferta de ingressos a jovens carentes, estudantes de escolas públicas, promovida por grupos de voluntários da Universal e de outras denominações e religiões, carrega boa dose de preconceito”.
“Sim, voluntários da Força Jovem Universal, bem como de outros grupos da Universal e de diversas denominações e religiões se organizaram para que o maior número de pessoas possível tivesse acesso ao filme porque acreditam no poder transformador da mensagem que o longa carrega”, acrescenta a nota.
“Se a preocupação do jornal é com a laicidade, a Universal já se manifestou publicamente contra o ensino religioso confessional em estabelecimentos de ensino estatais, em audiência sobre o tema, no STF”, conclui.