Naji al-Qanni Cairo, 24 (EFE).- O Egito comemorará na quarta-feira o 25º aniversário da devolução da península do Sinai por Israel, em meio a dois casos recentes de suposta espionagem israelense, que evidenciaram a desconfiança ainda reinante entre os dois países.
Ao mesmo tempo, e quase paradoxalmente, as comemorações coincidem com as expectativas geradas pela escolha por parte dos países árabes do Egito como “padrinho” nas negociações do degelo das relações com Israel.
Nos últimos meses, o Egito deteve e condenou vários acusados de espionagem para os serviços secretos israelenses do Mossad, entre eles egípcios e estrangeiros.
Há apenas três dias, um ex-estudante da Universidade islâmica de Al-Azhar e três oficiais da espionagem israelense foram condenados a 15 anos de prisão e trabalhos forçados, após terem sido declarados culpados de espionagem.
Além disso, há uma semana, a Promotoria acusou um engenheiro nuclear egípcio e dois estrangeiros – um japonês e um irlandês – de tentar instalar um programa de computador que permitisse ao Mossad espionar as atividades nucleares do Egito.
A Península do Sinai, que tem uma extensão de 60 mil quilômetros quadrados, foi ocupada na Guerra dos Seis Dias em 1967 junto com a Faixa de Gaza, Cisjordânia, Jerusalém Oriental e as Colinas de Golã.
Graças ao tratado de paz assinado em 1979 entre os dois países, Israel concordou em devolver o Sinai ao Egito, retirada que se completou em 25 de abril de 1982 após o desmantelamento do assentamento de Yamit.
O Sinai é um local importante para a tradição das três religiões monoteístas: o islamismo, o judaísmo e o cristianismo.
Segundo a Bíblia, teria sido o local em que Moisés falou com Deus. No século VII, o comandante muçulmano Amr Ibn al-Ass atravessou a península com seu Exército para invadir e conquistar o país, então dominado pelos cristãos.
“Não faz sentido comemorar este aniversário, porque o Sinai foi devolvido ao Egito com uma soberania incompleta”, disse à agência Efe Ahmed Thabit, professor de Ciências Políticas na Universidade do Cairo.
Thabit se refere às restrições impostas à presença militar egípcia ao leste do Canal de Suez.
O acordo dividiu o Sinai em seis áreas e definiu o número de unidades militares que poderiam estar presentes em cada uma.
Na área “F”, junto à fronteira com Israel, a presença militar egípcia está proibida e limitada a forças policiais com armamento leve.
“Na verdade, o tratado de paz que devolveu o Sinai ao Egito é falso, porque foi uma paz atingida mais entre os Governos do que entre os povos” acrescentou Thabit, se referindo à resistência de muitos egípcios em normalizar as relações com o Estado judeu.
Enquanto, Rifaat Sayed Ahmed, diretor do Centro Java de Estudos Estratégicos, disse à Efe que o descobrimento das recentes tramas de espionagem “demonstra que a paz não será conseguida assinando documentos, mas com a verdadeira vontade de alcançá-la”.
Outro acontecimento recente que manchou a relação entre os dois países é um documentário exibido em Israel que afirma que cerca de 250 militares egípcios foram assassinados por uma unidade do Exército israelense após a Guerra dos Seis Dias.
Mas, ao mesmo tempo em que estes incidentes aumentem a tensão entre os dois países, o Egito recebeu dos países árabes a incumbência de mediar as negociações entre estes e Israel.
A Liga Árabe pediu às duas únicas nações árabes com relações diplomáticas com Israel que dialoguem com o Governo israelense sobre a Iniciativa Árabe de Paz relançada em março na cúpula de Riad.
“Espera-se que o plano seja a chave para a paz entre israelenses e árabes. O Egito liderará a campanha em direção a esse objetivo”, disse à agência Efe um analista que pediu o anonimato.
A proposta estabelece a normalização das relações do mundo árabe com Israel em troca da retirada deste dos territórios ocupados que ainda estão ocupados desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967: Cisjordânia, Gaza, Jerusalém Oriental e as Colinas de Golã. EFE