O custo total da viagem do papa Bento XVI ao Brasil não pode ser calculado com precisão porque, além do dinheiro da Igreja e dos cofres públicos, empresas e pessoas voluntariamente estão ajudando a pagar os gastos – com dinheiro, produtos ou serviços. Algumas fizeram isso no anonimato. Outras, na direção oposta, contrataram agências de publicidade e assessorias de imprensa para divulgar suas boas ações.
Nas últimas semanas, dezenas de empresas enviaram e-mails às redações de jornais, revistas, TVs e rádios sugerindo reportagens sobre as facilidades que elas oferecerão ao líder católico em São Paulo e Aparecida, como as vestes para as missas e as porcelanas francesas das refeições.
Os exemplos continuam: o colchão da cama papal (“utilizamos molas de alto suporte, que se moldam ao corpo durante o sono e mantêm a boa posição da coluna”), a tinta das paredes do mosteiro (“o arquiteto, juntamente com os monges, escolheu as cores capazes de promover maior sobriedade aos espaços”), o órgão musical de uma das missas (“tem níveis de memória ilimitados e flexibilidade musical para acompanhar qualquer estilo de liturgia”) e a decoração do quarto (“60 metros de veludo e 34 metros de seda mista para confecção das cortinas de sua santidade”).
“Acho lamentável que usem o papa como garoto-propaganda. Como católico, não gosto nada disso”, critica o sociólogo Pedro Ribeiro de Oliveira, ex-assessor da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). “Essa visita será apenas um espetáculo a mais, no qual muita gente vai ganhar dinheiro”, acrescenta a freira e professora de teologia Ivone Gebara.
Hospitais voluntários
Em São Paulo, três dos hospitais mais sofisticados da cidade ficaram com a tarefa de cuidar da comitiva do Vaticano em caso de emergência. Não cobrarão nada. “Tivemos uma fila de hospitais querendo ser voluntários para cuidar do papa”, diz um funcionário da equipe encarregada dos esquemas de saúde e segurança.
“Mas nenhum hospital se ofereceu para receber as pessoas que passarem mal durante os eventos. O atendimento delas será feito na rede pública de saúde.” “O papa não vai ficar muito feliz se souber que vai receber um atendimento diferenciado”, lamenta o padre José Antonio de Oliveira, de Barbacena (MG). “Isso não é nada cristão, mas é o que acontece.
As prefeituras de São Paulo e de Aparecida, o governo paulista, a Arquidiocese de São Paulo, a Fazenda Esperança e o Seminário Bom Jesus gastaram pelo menos R$ 19,9 milhões com a visita do papa Bento XVI.
Há ainda os gastos do governo federal e do Mosteiro de São Paulo que são guardados a sete chaves, além das doações feitas por pessoas e empresas. A ostentação da viagem papal está causando mal-estar na Igreja Católica brasileira.
O padre Júlio Lancellotti, que coordena da Pastoral do Povo da Rua em São Paulo, faz uma sugestão: “Em lugar de oferecer vinhos e doces, as empresas deveriam abrir vagas para contratar os desempregados. Isso, sim, seria bonito, uma verdadeira homenagem ao papa”.
Fonte: C Online