Desde 1988, quando o então célebre televangelista Jimmy Swaggart admitiu seu envolvimento com uma prostituta, nenhum escândalo ministerial teve tamanha repercussão quanto o do pastor Ted Haggard.
Presidente da poderosa Associação Nacional de Evangélicos dos Estados Unidos, entidade que representa mais de 30 milhões de crentes, e pastor da Igreja New Life, em Colorado Springs, o pregador levantava sua voz conservadora contra a imoralidade e, principalmente, a homossexualidade.
Por isso, quando veio a público, em 2006, que Haggard tivera relações sexuais com um garoto de programa e ainda consumira drogas com ele, seu mundo – e o de muita gente que acreditava nele – ruiu.
Escândalo sexual
Casado, pai de cinco filhos e considerado pela revista Time como um dos 25 evangélicos mais influentes de seu país, Ted Haggard renunciou a todos os cargos e recolheu-se em seu abismo. Mas ao seu lado ficou sua mulher, Gayle.
“O amor encobre uma multidão de pecados”, explica. Agora, passados quase cinco anos do escândalo, ela deixa claro que resolveu perdoar. A história está contada em seu livro Why I stayed (“Porque eu fiquei – As escolhas que fiz na hora mais escura”). Ela contou uma pequena parte a Christianity Today:
CRISTIANISMO HOJE – O que aconteceu depois que seu marido lhe confessou tudo?
GAYLE HAGGARD – No início, fiquei arrasada. Vi que tudo aquilo em que nós investimos e acreditávamos estava desmoronando. Eu chorava muito.
Naquela primeira noite, deitada na cama, pensando no que estava acontecendo conosco, eu só me perguntava: “O que será de mim nesta história toda?”
Por que a senhora não seguiu o conselho de seu próprio marido, que sugeriu o divórcio?
Fiquei ao lado de meu esposo porque ele merece. Claro, fiquei ferida. Senti-me traída, com o coração aos pedaços. Mas era preciso acreditar que, apesar da dor, Ted me amava e nosso relacionamento era real. Achei que ele merecia que eu lutasse ao lado dele; que nosso casamento deveria ser salvo e que nossos filhos precisavam ser honrados.
No livro, a senhora diz que tinha uma boa vida sexual. Por que, então, acha que o pastor Ted tinha atração por pessoas do mesmo sexo?
Ele havia me dito que lutas em seus pensamentos surgiam de tempos em tempos. Eu apenas pensei que era uma tentação; não entendia a força disso em sua vida. Nosso casamento era forte.
Houve quem dissesse que ele deveria aceitar que aquilo [a homossexualidade] era de fato a sua identidade. Mas creio que nossas identidades são constituídas por aquilo em que acreditamos e como escolhemos viver nossas vidas.
A senhora fala que teve medo até de que seu marido tivesse contraído doenças sexualmente transmissíveis e as transmitido à senhora. Como foi capaz de perdoá-lo após admitir isso?
Eu tive que lidar com o fato de que Ted estava passando por essa luta e que tinha caído nela. Havia todos os tipos de implicações. Sim, tive medo de que ele tivesse contraído alguma doença e a pudesse passar para mim.
Claro que foi terrível lidar com essa situação, foi doloroso saber que ele havia me colocado nela. Perdoá-lo fazia parte de todo o processo. Eu precisava entender o que o tinha levado àquilo. Quando entendi, ficou mais fácil perdoá-lo por todas as dificuldades.
O que sentiu quando vocês foram desligados da igreja?
Fomos cortados por pessoas que não eram representantes do corpo como um todo. Fiquei desapontada, porque eu acreditava muito na igreja. Isso foi tão devastador para mim quanto o colapso em meu casamento.
Eu havia investido muito, tanto no casamento quanto em minha igreja. Foi um período duro para mim. Mas Deus, o gentil restaurador, me fez caminhar através de toda essa situação.
Eu não perdi a minha paixão pela igreja – mas eu quero que a igreja seja igreja, e pare de negar o poder do Evangelho na vida das pessoas. A Escritura diz que, quando um irmão peca, aqueles que são espirituais devem restaurá-lo. Nós existimos para trazer prazer e cura às pessoas, e não aumentar sua dor com julgamentos.
O que a senhora diz às mulheres que a procuram para aconselhamento?
Eu diria a todas as mulheres que perdoem e amem. Incentivo todas a definir a sua trajetória na direção do perdão. É um processo que deve ser encarado com a cabeça erguida.
Eu não posso dizer que outras histórias serão como a minha, porque o Ted decidiu lutar por nosso casamento, após arrepender-se e agarrar-se na sua fé em Deus, e passar por tudo ao meu lado. Nem todos os maridos fazem isso.
Em poucas palavras, por que ficar?
Eu fiquei porque acredito nos ensinamentos de Jesus. Se nós escolhermos o perdão e o amor, nossos relacionamentos podem ser curados. Eu fiquei porque meu marido é digno.
Eu não iria deixar que a luta que ele estava passando o desqualificasse ou anulasse os 30 anos de vida que construímos juntos, o lindo casamento que temos, a família e a igreja que construímos. Eu não iria deixar isso negar tudo o que gastamos ou investimos em nossas vidas. Se eu fosse embora, eu seria a negação de tudo isso.
Fonte: Cristianismo Hoje / Gospel+
Via: Guia-me