Conhecido como Praga, o compositor de funk Thiago Jorge Rosa dos Santos é evangélico e respeitado pelos MCs que tocam tanto o “pancadão” (estilo com letras de forte conotação sexual), quanto o “ostentação” (que valoriza os bens materiais).
Membro da Assembleia de Deus, casado e postulante a estudante de direito, o jovem de 28 anos diz não gostar dos bailes: “Sou tímido, tímido, tímido. Para ser MC, o cara tem que gostar de tumulto. Minha vocação é o lado chato, de ficar em casa, pensando, lendo, assistindo aos meus documentários, para, aí sim, fazer a minha crônica do dia a dia e transformar isso em música”, afirmou Praga em entrevista à Folha de S. Paulo.
O apelido, segundo ele, vem do comportamento bagunceiro na infância, quando surgiam as primeiras músicas no estilo que hoje, o coloca entre os principais compositores de funk, na visão de alguns MCs, como Mr. Catra, por exemplo. “Escrevi minha primeira música aos oito anos. Meu irmão era MC e foi pra ele que eu dei a minha primeira rabiscada”, diz.
Demonstrando opinião crítica, o aspirante a advogado nega que as músicas façam apologia ao crime, e diz que as composições usam a liberdade de expressão para relatar a realidade: “Apologia ao crime não existe. A gente faz uma crônica do dia a dia. Se não houvesse o crime, nós não falaríamos disso. Já viu funk que fala de ET? Esse crime de apologia fere a liberdade de expressão”, defende-se.
O tom crítico também ganha contornos politizados sobre a sociedade: “Temos o dever de levar um funk com cunho político, que mostre essa situação, para fora da favela. Mas você já viu algum funk desses na TV? Nunca. Lá só querem saber de Naldo e Anitta, ninguém quer levar o cara da Vila Cruzeiro que discute segurança pública. Nem as leis de incentivo à cultura nos ajudam. Se o projeto tiver funk no nome, pode esquecer”, lamenta.
Ganhando aproximadamente R$ 5 mil por composição que escreve, Praga conta que ainda não é “membro efetivo” da Assembleia de Deus, e compreende que protagoniza uma situação inusitada: “É um paradoxo. Gosto de uma religião completamente contrária ao meu trabalho”, resume, antes de afirmar que apesar da fé, não se vê pronto para abandonar o funk: “Acho que esse dia chegará, mas ainda não sei quando”.
Por Tiago Chagas, para o Gospel+