John Ramirez foi um bruxo que se converteu ao Evangelho e quebrou uma tradição em sua família, sempre associada a práticas ocultistas. Seus pais o consagraram aos demônios ainda na infância, sob ameaça de espíritos, e sua vida parecia destinada a isso.
Os pais sucumbiram à ameaça dos demônios para consagrá-lo à santeria – uma crença oriunda da África, permeada por sincretismo, que mistura feitiçaria com aspectos do catolicismo – porque a alternativa era ver o filho cego, de acordo com os espíritos malignos.
Em um depoimento à Christian Broadcasting News (CBN), Ramirez contou que toda sua personalidade havia desaparecido depois da consagração aos espíritos. “Eu senti como se alguém colocasse um cobertor preto por cima de mim. Eu não estava respondendo apenas à minha mãe e meu pai, eu estava respondendo aos demônios”, contou.
De acordo com informações do God Reports, sua infância e adolescência foram marcadas por um treinamento na santeria fiscalizado por satanistas de alto escalão, com tarefas como se infiltrar em funerais para “capturar” os espíritos dos mortos e usá-los para matar outras pessoas com a mesma causa de morte.
“As pessoas sabiam que eu carregava comigo, uma força a ser considerada. Eu gostava daquele poder. Eu fui subestimado como um jovem rapaz. Mas depois eu tinha o poder e a autoridade para fazer o que quisesse”, disse, acrescentando que chegou a recolher sangue de traficantes mortos para realizar rituais.
Aos 13 anos de idade, Ramirez ficou órfão. Seu pai morreu em uma briga de bar, e como ele sofria abusos físicos e emocionais, ficou aliviado por saber que não passaria mais por aquela situação. “Como um jovem garoto, eu pedia a ajuda de Deus para livrar a minha mãe, quando o meu pai estava batendo nela. E ninguém aparecia. Mas o diabo apareceu porque ele matou meu pai. Eu acredito que o diabo me disse: ‘Ninguém te ama, mas eu te amo. Seu pai não pode oferecer nada para você, mas eu sou o seu provedor. Vou dar-lhe o que você quiser. Basta pedir’”.
Já mais velho, Ramirez tinha como principal missão fazer trabalhos contra seguidores de Jesus: “Nas boates, eu olhava em volta e buscava identificar os cristãos. Eu sabia que estava no campo de jogos do diabo. Então eu sabia que se eu pudesse chegar até alguém que já tivesse bebido uma cerveja ou duas, eu diria: ‘Tenho algo a dizer-lhe hoje’ e se a pessoa me perguntasse ‘O que você tem a me dizer?’, eu responderia ‘você abriu a porta para mim’”, contou, revelando como entregava as mensagens demoníacas.
Promovido em um ramo da santeria chamado palo Mayombe, ele foi se tornando mais “poderoso” dentro daquela religião, e chegou a travar guerras espirituais em nome de satanás na região onde vivia. “O diabo me disse que eu tinha que visitar meu bairro no reino espiritual para enfraquecer a região no ambiente físico. O que quer que você mate no reino do espírito, você pode matar no natural”, contou.
Conforme o tempo foi passando, ele foi ganhando experiência e notando que suas maldições eram enfraquecidas quando haviam orações. Conforme os cristãos se reuniam para se dedicar ao clamor a Deus, menos autonomia ele tinha na vizinhança. “Mas nos outros bairros, era hora de festa”, contou.
Começo de mudança
Certo dia, quando já tinha completado 25 anos de idade, Ramirez conheceu uma jovem e se apaixonou. Ela o convidou para sua casa, onde seus pais falaram a ele sobre Jesus.
“Eles abriram a Bíblia e disseram: ‘Ei, escute, nós queremos falar com você sobre isso’. Eu disse a ela: ‘Bem, eu não posso vir mais à sua casa. Seus pais são loucos’. Então eu disse: ‘Ok! Pelo menos deixe-me fazer a digestão do alimento e, em seguida, vocês podem falar sobre esse tal Jesus’. Eu pensei que depois que os deixasse falar, eu teria vontade de ir para o culto no templo satânico e matar animais durante toda a noite para conseguir voltar e vê-la, mas ela não sabia disso”, relembrou.
A jovem o convidou para ir ao culto na igreja que frequentava, e ele aceitou, porque a seu modo de ver os cristãos eram “inofensivos e divertidos”: “Nós tínhamos um sistema diferente do que eles tinham. Eles faziam coisas como nos abraçar, nos beijar e dizer: ‘Aleluia, nós amamos você’. Então eu continuei a ir à igreja para agradá-la, mas eu não deixaria as pessoas descobrirem sobre as coisas com as quais eu estava envolvido [santeria]”, contextualizou.
Em um domingo, quando o pastor fez o apelo, John atendeu e foi à frente do púlpito, mas sem imaginar o que viria a seguir: “De repente, eu fiquei possuído por demônios. Peguei o pastor pela garganta, o segurei no alto e disse: ‘Eu vim para te buscar’. Muitos homens saíram de seus assentos, tentaram me agarrar. Eu simplesmente jogava para longe as pessoas ao meu redor, como bonecas de pano”.
Ele, no entanto, não esperava que uma arma que já o limitava antes, seria usada para parar os espíritos que o possuíam: “Cerca de 200 pessoas se levantaram, estenderam suas mãos sobre nós mãos e começou uma guerra espiritual por aquela pessoa que eu teria matado em um piscar de olhos. Eu vi o poder de Deus naquela igreja. Um dos rapazes estava sussurrando no meu ouvido, ‘Diga, Jesus é o Senhor. Diga: Jesus é Senhor. Diga!’. Eu não podia abrir minha boca. E, de repente eu consegui dizer: ‘Jesus é o Senhor’ e o diabo deixou aquele lugar”.
Os dias foram passando e a cena em que ele foi tomado por espíritos não saía de sua cabeça, assim como a agressão ao pastor, e isso o fez se tornar relutante em voltar àquela congregação.
Algumas semanas depois, ele ganhou uma camiseta de um senhor, com os dizeres “Você é um guerreiro de Cristo”. Esse gesto de bondade e perdão o impactou: “Foi incrível. Eu não podia acreditar que Jesus me amava”.
No entanto, ele enfrentava sérios empecilhos para voltar a frequentar os cultos: “Eu estava comprometido com o lado negro, com os demônios. Eu estava comprometido com o diabo. E eu estava entre dois mundos”.
Aflição
Essa situação o levou a considerar o suicídio, pois sem saber como orar para expressar arrependimento ou como desfazer seus pactos com o diabo, ele não via futuro.
“Eu disse: ‘O Senhor Jesus não pode me ter. O diabo não pode me ter. A melhor saída é o suicídio’ Na minha ignorância, na minha vergonha, na minha confusão, eu pensei que estava longe. Eu estava espiritualmente seco”, relembrou Ramirez.
Em uma conversa desesperada com Deus, com a arma de seu suicídio nas mãos, foi onde ele apostou todas suas fichas: “Eu não sei do que eles chamam você, Jesus. Qualquer que seja o nome pelo qual eles te chamam na igreja, eu não gosto de você. Eu nunca gostei de você. Eu nunca tive nada a ver com você. Eu não quero me comunicar com você. Eu te odeio. Eu não quero ser parte de você. Eu nunca quis ser um cristão. Eu te nego. Vou adorar ao diabo até o dia que eu morrer”, blefou, antes de recuar, num sussurro: “Mas se você é maior do que o deus que eu sirvo, então se revele a mim hoje à noite ou me deixe em paz”.
Ramirez caiu no sono e durante a noite sonhou que estava em um vagão de metrô lotado, e embora não soubesse para onde ia, não tinha bons pressentimentos: “Havia uma senhora vestida, muito elegante e ela começou a falar comigo em uma língua demoníaca. Eu entendi a língua. Ela dizia: ‘Traidor! Você está nos deixando’. Então, eu tentei entrar no meio do trem, no meio do povo, fugindo dela e então, Bam! As portas se abriram. Eu acabei no inferno”.
Ainda sonhando, ele se viu em um ambiente obscuro, sobrenaturalmente quente e desesperador, e satanás apareceu para ele: “Eu estive com você desde os nove anos de idade. Eu tenho sido um pai para você. Eu lhe dei tudo. Vou mantê-lo aqui, porque se eu posso mantê-lo aqui, você não vai acordar no andar de cima [terra]. Você pertence a mim. Você não vai sair. Você sabe segredos demais da minha religião”, disse o diabo a ele.
Quando ele se sentiu agarrado por satanás, uma cruz surgiu em sua mão, e ele pode se defender: “Eu coloquei a cruz sobre o diabo e ele ficou inofensivo, como um bebê. O diabo não tem poderes ao pé da cruz”.
Ao acordar, Ramirez disse que sentiu liberdade: “Eu sabia que Jesus é o Senhor. Eu dobrei meu joelho diante da cruz e Jesus entrou na minha vida”.
Luta final
Nas noites seguintes, após se desfazer dos utensílios ritualísticos, ele ainda precisou travar batalhas espirituais: “À noite, sentia uma presença entrar na sala. E então, quando eu ia virar, eu realmente, por vezes, via o que estava lá. Ou às vezes quando eu adormecia, sentia as mãos de alguém agarrando a minha garganta e tentando me tirar da cama e tentar rasgar a minha alma do meu corpo”, relembrou.
Esses ataques, segundo ele, muitas vezes saíram do plano espiritual e se materializaram: “Às vezes eles me agarravam pelos pés e a cama balançava, […] levitava a tal ponto que às vezes eu atingia o teto. Eu não conseguia respirar, não podia gritar, não podia falar. Eu me sentia como se estivesse sufocando; E eu gostaria de tentar chamar por Jesus, e as palavras não saíam e, em seguida, no final, as palavras saíam: ‘Jesus, me ajude. Jesus, me ajude’”.
Ramirez começou a se perguntar por que Jesus não o libertava de uma vez por todas, mas certo dia suas dúvidas se dissiparam e ele sentiu como se Deus o dissesse “eu queria saber o quanto você me amou, o quanto você confia em mim”.
“Nunca mais um demônio apareceu em minha casa”, disse. Atualmente, John Ramirez é um evangelista, membro de uma igreja sediada em Nova York, e escreveu o livro “Out of The Devil’s Caudron” (“Fora do Caldeirão do diabo”, em tradução livre), contando seu testemunho.
“Eu tenho sido vitorioso em Cristo. Eu tenho paz. Eu não sou mais vazio. Eu tenho satisfação. Eu tenho um propósito e eu tenho um destino hoje. Tudo porque eu disse ‘sim’ para a cruz. Agora eu sou um evangelista para o Reino de luz, não mais um servo das trevas”, disse ele. “Exponho o lado negro cada vez que o Senhor me dá uma chance, para que vocês não tenham mais que morrer em seus pecados. Vocês não têm mais que derramar seu sangue, como na santeria. Jesus derramou o sangue para você. Esse é o sangue que conta: o que foi derramado na cruz”, finalizou