O cardeal Sean O’Malley, da Arquidiocese de Boston, deu início este mês a uma campanha publicitária maciça para atrair de volta um grande número de católicos que abandonaram a Igreja.
Na quarta-feira de Cinzas, o primeiro dia da Quaresma, começou oficialmente a “Catholics Come Home” [Católicos, voltem para casa] que irá até o Domingo de Páscoa. É uma verdadeira enxurrada de mensagens, com cerca de 2.500 anúncios programados no rádio e na TV.
O’Malley explica a iniciativa: “Estamos com saudades dos irmãos e as nossas comunidades estão diminuindo por causa dessa ausência”. Não deverá ser uma conquista tão fácil, afinal Boston é o centro do maior escândalo de abuso sexual do clero norte-americano. Dezenas de padres abusadores continuaram vivendo entre os paroquianos, enquanto seus crimes eram mantidos em segredo.
Nicole Frampton, 39 anos, mãe de cinco filhos, afirma ter “muito orgulho” de ser católica, embora não tenha ido a nenhuma missa nos últimos anos. Frampton diz acreditar que a Igreja tem uma visão antiquada sobre as mulheres e se ressente dos fardos da “culpa católic “. Saiu com a sensação que sua paróquia local não tinha nada para lhe oferecer. Porém, admite que o convite de “voltar para casa” mexeu com ela.
“Posso ver que isso realmente atrairá algumas pessoas, especialmente com tudo o que está acontecendo no mundo nesses dias, falta de dinheiro e a instabilidade geral”, disse ela, mesmo afirmando não estar convencida de que as coisas vão mudar.
A campanha de anúncios da Arquidiocese será feita em parceria com a organização católica “Come Home”, sediada na Geórgia. O cardeal O’Malley disse estar preocupado que o vergonhoso passado da arquidiocese possa afetar a disposição das pessoas em voltar. Mesmo assim, pensa que isso não pode impedir a Igreja de compartilhar a sua mensagem redentora. “Embora a crise de abusos sexuais tenha sido um episódio doloroso para todos nós, ainda acreditamos na Igreja Católica e nós acreditamos no evangelho de Jesus Cristo”, esclarece.
Fundador da Catholics Come Home, Tom Peterson realizou uma pesquisa e concluiu que as pessoas se desviam da igreja mais frequentemente por causa da sua vida agitada. Um número bem menor a abandona com desgosto ou raiva. As pessoas têm muitos compromissos e a igreja acaba deixando de ser prioridade, disse ele.
No entanto, Peterson acredita que o trabalho de sua organização tem mostrado que muitas pessoas estão abertas para um retorno, só precisam ser chamadas de volta. Eles fazem uma levantamento antes e depois do programa em algumas cidade para medir o efeito desse apelo público. Entre as dezenas de dioceses onde já foi realizada, a frequência de católicos aumentou em média 10%. A maior resposta foi em Phoenix, Arizona, onde estimam que 92.000 pessoas voltaram para a igreja.
A campanha de Boston custou US$ 600.000 e foi inteiramente financiada por doações de paroquianos. Um dos anúncios, por exemplo, mostra uma colagem de pessoas e lugares através de diferentes épocas e apresenta a Igreja como uma fonte constante de esperança e de caridade. O narrador diz: “Neste mundo cheio de sofrimento, caos e dor, é reconfortante saber que algumas coisas permanecem coerentes, verdadeiras e fortes. Se você está fora da Igreja Católica, nós o convidamos para voltar”.
A arquidiocese tem oferecido treinamento para ensinar como os paroquianos que retornam devem ser tratados.
Groome Thomas, professor de teologia e educação religiosa do Boston College, disse que a campanha não irá funcionar se as pessoas voltarem e ouvirem uma pregação insatisfatória, perceber o descaso da igreja com as questões sociais e esperarão um acolhimento incondicional.
Já existe uma versão brasileira dessa campanha, criada em 2008. Mais informações em http://www.voltaparacasa.com.br/
Fonte: Pavablog