Um grupo internacional de cientistas conseguiu decifrar 1% do genoma humano, no que seria “o projeto de maior envergadura desse tipo” depois do seqüenciamento do código genético humano, em 2003. As informações sobre o projeto, que será publicado nesta quinta-feira na revista Nature, foram dadas pelo cientista espanhol Roderic Guigó, membro do Centro de Regulação Genômica (CRG) e um dos responsáveis pelo trabalho.
Um total de 35 grupos de trabalho de 80 organizações de todo o mundo tomou parte no estudo, no marco do Projeto Encode (Encyclopedia of DNA Elements). Os grupos contribuíram com 200 séries de dados. Foram selecionadas 44 regiões distintas (partes dos cromossomos) do genoma humano, o que compreende, aproximadamente, 1% de toda a seqüência.
Guigó explicou que o projeto, aliado a outros 28 estudos da revista especializada Genome Research, tornou possível enxergar “com a maior nitidez conseguida até o momento” uma porção tão grande do genoma humano. Segundo ele, antes da realização da pesquisa, já haviam sido analisados, em detalhes, alguns genes concretos, vinculados a certas doenças. “Mas nunca uma parte de extensão tão considerável do genoma”, afirmou.
Neste 1% do código genético humano, no qual a maioria das regiões foi selecionada ao acaso – embora uma pequena parte seja correspondente a genes vinculados a doenças -, foram identificados cerca de 470 genes. Guigó explicou que a quantidade não é utilizada para “a determinação do cômputo total”. O trabalho foi centrado na elaboração do mapa concreto de onde estão os genes e que forma têm, “porque contam com muitas formas alternativas”.
“Um mesmo gene pode dar origem a proteínas distintas, dependendo de como sejam combinadas as diferentes regiões”, detalhou o cientista. A idéia é localizar as regiões funcionais do genoma humano, “as partes com influência na determinação das características biológicas dos seres vivos”. O cientista espanhol lembrou que, no genoma, “todo um conjunto de instruções” dita como serão as características biológicas dos seres vivos (altura, cor dos olhos, cabelo, sexo, suscetibilidade a doenças etc).
“Os cientistas não sabem muito bem como ler essas instruções, e quais regiões do genoma são as que realmente codificam as instruções. Com esse trabalho, tentamos entender como é, em detalhes, pelo menos 1% do genoma humano”, disse. Os resultados do trabalho trouxeram surpresas, segundo Guigó. Uma delas seria que “a maior parte do genoma tem atividade”. Isso elimina a idéia de que uma grande parte do DNA seria “inútil”, sem função alguma.
“Descobrimos que muitas regiões do genoma são mais ativas do que pensávamos, embora suas funções sejam desconhecidas”, afirmou. “Agora sabemos que a maior parte do genoma é transcrito em ARN, que é a primeira função do DNA”, afirmou o cientista.
Outra surpresa foi a comprovação de que “essas regiões” do genoma que foram analisadas estão intensamente interconectadas. Até agora, os cientistas acreditavam que os genes eram claramente delimitados. Segundo Guigó, os estudiosos pensavam que os genes se relacionavam “como as contas de um colar”, com as fronteiras entre eles sendo definidas e delimitadas. Dessa vez, no entanto, os cientistas perceberam que, às vezes, é difícil distingüir alguns genes de outros, porque eles se sobrepõem e podem, inclusive, formar conjuntos.
Dessa forma, há dificuldades para determinar qual é a quantidade precisa de genes do genoma humano, que poderia ser de 20 mil a 30 mil. Guigó explicou que ficou comprovado também que as regiões do genoma que se mantiveram iguais nos humanos e em outras espécies de seres vivos “são importantes funcionalmente, pois não foram modificadas pela evolução”.
Fonte: Reino Celestial