O alinhamento do papa Francisco com o politicamente correto pode levar a Igreja Católica a discutir mais seriamente a “criação” de mais uma ofensa que seus fiéis devem evitar: o pecado ecológico.
O Sínodo da Amazônia, realizado no Vaticano, vem discutindo questões ambientais e a estratégia da Igreja Católica para voltar a crescer na região da floresta, que tem sua maior parte em território brasileiro.
O tema do pecado ecológico surgiu logo após a abertura do encontro, no dia 8 de outubro, quando um dos sacerdotes convocados disse, diante do papa, que era preciso “aprofundar e divulgar uma literatura teológica” sobre os “pecados ecológicos”.
“Foi prenunciada uma conversão ecológica que faça perceber a gravidade do pecado contra o meio ambiente como um pecado contra Deus, contra o próximo e as futuras gerações”, diz o relatório divulgado pelo Vaticano, que não identificou o autor do discurso.
Porém, o autor ainda não identificado viu o debate em torno de sua proposta avançar e fazer parte dos grupos que agora esmiúçam os grandes temas abordados no Sínodo da Amazônia, e deverá fazer parte do documento final que será apresentado para voto no dia 25 de outubro.
De acordo com informações do jornal Folha de S. Paulo, um dos participantes do sínodo afirmou que o tema do pecado ecológico tem sido tratado de forma intensa nas discussões internas e está sendo pautado no campo da teologia da criação, sendo entendido como parte do campo de compreensão que Deus criou o mundo e o colocou sob responsabilidade dos seres humanos.
“A conversão ecológica já está bem trabalhada, falta mesmo formular concretamente como isso será na prática da vida do sujeito”, disse esse especialista que atua na redação do texto final.
Dom Pedro Brito Guimarães, arcebispo de Palmas, fez uma demonstração a jornalistas de como o assunto tem sido debatido no sínodo: “A defesa do meio ambiente não é uma questão do Partido Verde, de uma ONG ou de alguém que se encantou. É uma questão vital. Ou nós cuidamos da nossa natureza ou estamos comprometendo a condição da nossa vida, estamos fazendo uma coisa séria: pecando contra o criador”.
“É preciso ter consciência, formação ecológica, desde a criança na catequese, desde a escola. As pessoas vão aprendendo a respeitar e a crescer na sua fé sabendo que quanto mais nós contribuirmos para um mundo melhor, melhor para todo mundo”, acrescentou.
Em 2015, o papa Francisco havia indicado que pretendia seguir esse caminho ao divulgar a encíclica “Laudato Si” com menção à chamada “conversão ecológica”, que fala sobre a necessidade de mudar as práticas que não vão de acordo com o projeto de Deus.
“Segundo o papa Francisco, a conversão ecológica desperta em nós aquilo que a gente não tinha consciência ainda: que as nossas ações têm impacto socioambiental. E se traduz inclusive nos gestos relativos ao consumo, ao nosso cotidiano, na economia de água e energia”, explica Afonso Murad, professor de teologia da Faculdade Jesuíta, em Belo Horizonte, especializado em ecoteologia.