O Dar al-Iftaa, o organismo dirigido pelo Mufti do Egito, xeque Ali Gomaa, desmentiu nesta terça-feira que a mais alta autoridade religiosa do país tenha decretado que os muçulmanos estejam livres para mudar de religião.
Esta proposição “não foi pronunciada pelo mufti”, afirma o Dar al-Iftaa em comunicado publicado pela agência de notícias egípcia Mena.
Uma declaração do mufti, tirada de uma contribuição que o líder dava para um fórum do Washington Post-Newsweek e reproduzida na imprensa egípcia afirmava que os muçulmanos eram livres de mudar de religião.
“A questão essencial que nos é colocada é: um muçulmano pode escolher uma religião diferente do Islã? A resposta é sim”, escreveu o grande mufti do Egito, Ali Gomaa, segundo o fórum.
Esta declaração teve conseqüências consideráveis no Egito. Neste país, os coptas representam de 6 a 10% dos 76 milhões de habitantes e constituem a maior comunidade cristã do Oriente Médio.
“O ato de abandonar sua religião é um pecado punível por Deus no dia do juízo final. No caso de alguém que tenha rejeitado a sua fé, nenhum castigo está previsto no mundo aqui de baixo”, continuou ele. O líder, no entanto, alertou para as conversões que viriam a minar os “fundamentos da sociedade”.
Na maioria dos países muçulmanos, as pessoas que se convertam a uma outra religião são consideradas apóstatas e podem ser condenadas à pena de morte.
As tentativas dos muçulmanos no Egito de se converterem a outra religião são embarreiradas pela recusa do Estado em modificar os documentos de identidade onde está discriminada a religião.
“Apesar de não ser um crime no Egito, estas pessoas são presas pela lei de urgência ou são levadas à justiça por ultraje à religião caso queiram se converter”, explicou Hossam Bahgat, membro da iniciativa egípcia pelos direitos individuais.
“Este fatwa é significativa, especialmente vindo de Gomaa”, acrescentou ele. “Desde 2004, há muitos processos envolvendo cristãos que se converteram ao Islã e querem voltar ao Cristianismo”, prosseguiu.
Bahgat, cuja organização é responsável pela defesa de 12 coptas convertidos ao Islã que querem voltar ao cristianismo, acrescentou que Gomaa, em suas fatwas anteriores, considerava a apostasia como uma ameaça à ordem pública.
A mudança de credo é uma questão espinhosa no mundo muçulmano. Para os mais extremistas, os convertidos merecem a morte.
“O castigo por apostasia é controverso. Nenhum texto do Alcorão o menciona”, afirmou o vice-presidente do Alto Tribunal administrativo, o juiz Ahmed Mekky.
Por outro lado, os textos que evocam os casos de conversão do Islã defendem a execução dos infiéis por traição, um crime mais político do que religioso.
Fonte: Último Segundo