No segundo dia após o pior acidente da aviação brasileira, uma multidão seguia atenta o trabalho exaustivo dos bombeiros pelos escombros do prédio da TAM Express, onde um avião Airbus se chocou na terça-feira com 186 pessoas a bordo.
Na rua de saída do Aeroporto de Congonhas, que dá vista para as duas pistas da avenida Washington Luis, é possível ter uma visão privilegiada dos restos do prédio da TAM Express. É nessa rua, mais elevada que a avenida, que ficam as câmeras de TV, os jornalistas e os curiosos.
A dona-de-casa Sandra Regina de Almeida e Silva levou nesta quinta-feira o filho de 10 anos, a pedido do próprio, para ver “a movimentação”. Os dois já estavam lá havia duas horas e contavam aos presentes que já tinham localizado uma bota no meio dos escombros e uma turbina da aeronave.
“Estou chocado, impressionado”, disse o filho, Gabriel, encostando a cabeça no ombro da mãe.
O consultor técnico Marcelo Felipe Theófilo, 28 anos, carregava uma mala de rodinhas e já tinha até feito o check-in no aeroporto para embarcar para Belo Horizonte. Com uma hora de espera, ele também foi dar uma espiada.
“É como uma cena de guerra, assustador”, disse Theófilo, que se preparava para sua provável última viagem por Congonhas. “Minha empresa cancelou os vôos por aqui, agora é só Cumbica.”
Na rua lotada de gente e na avenida movimentada, passageiros de carros e ônibus passavam devagar, com olhares espantados e câmeras fotográficas ou de celulares na mão.
Apenas uma barraquinha vendia sanduíches e refrigerantes no local. O movimento, segundo sua dona, aumentou “um pouco”. “Mas desde as 6h já foram uns 4 a 6 litros de café”, disse Jéssica Pereira, 16 anos, filha da dona, enquanto atendia três pessoas de uma só vez.
Os amigos Irmones da Silva Santos, 17 anos, e Thale dos Santos Araújo, 16 anos, ficaram das 11h às 19h acompanhando o trabalho dos bombeiros e a movimentação de jornalistas e autoridades.
“O mais interessante seria ver algum sobrevivente, mas…”, disse Santos. “Até agora só ouvimos comentários de bombeiros falando de 'braços soltos, braços com pulseiras, essas coisas.” Na confusão de pedestres e jornalistas, disputando uma vaga por uma boa visão, o pastor José Bezerra, da Assembléia de Deus, lia a Bíblia em voz alta, tentando comover os presentes com uma passagem sobre a Arca de Noé.
Perto dali, no muro do aeroporto, flores brancas e vermelhas descansavam no chão, meio pisoteadas, talvez a homenagem de alguém para as vítimas da tragédia.
Fonte: Reuters