Um dos grandes paradoxos do Natal na Terra Santa é que a grande maioria dos habitantes, judeus e muçulmanos, não festeja a noite do dia 24 de dezembro, nem o nascimento de Jesus em Belém, a 6 quilômetros de Jerusalém.
Segundo o Comitê Cristão Internacional, com sede na cidade velha de Jerusalém, apenas 17 mil cristãos vivem atualmente em Israel, nos territórios palestinos e na vizinha Jordânia, a diocese da Terra Santa.
Isso significa que, para a maioria dos seus habitantes, as festividades cristãs passarão quase despercebidas. Exceto pela missa de hoje na igreja franciscana de Santa Catarina de Belém, que será transmitida pela televisão para todo o mundo, inclusive para os israelenses.
Os franciscanos, devotos de Francisco de Assis, que seguiu os passos de Jesus há 800 anos, são os detentores da custódia da Terra Santa, mas, desde a época do Império Otomano, a Igreja Ortodoxa Grega controla a Basílica da Natividade de Belém e o Santo Sepulcro em Jerusalém.
Assim, são os greco-ortodoxos, maioria na comunidade cristã, que rezam a missa do dia 24 de dezembro na basílica junto à Igreja de Santa Catarina, onde se encontra a caverna e onde esteve o presépio no qual Jesus teria nascido, segundo a tradição.
As comemorações, que também incluem Nazaré da Galiléia, onde o arcanjo Gabriel anunciou o nascimento à Virgem Maria acontecem em triplo, já que os católicos comemoram neste domingo; os ortodoxos, em 5 de janeiro, na noite de Reis, e a Igreja Armênia, no dia 18 de janeiro.
Tanto nos círculos da ortodoxia judaica como do islâmico, a atividade do clero é vista com receio, por considerar que um de seus objetivos é converter seus paroquianos ao Cristianismo.
Por diferenças de fuso horário com a Europa, pela primeira vez a missa de meia-noite em Belém começará uma hora antes da celebrada pelo Papa Bento XVI em São Pedro.
A missa de Belém será celebrada em conjunto com o Patriarca Latino, representantes da Igreja Católica na diocese da Terra Santa, e o monsenhor Michel Sabah, natural de Nazaré.
A maioria dos cristãos na diocese da Terra Santa é de nacionalidade árabe, parte deles cidadãos de Israel, outros da Jordânia, e outros de Jerusalém Oriental, Cisjordânia e Gaza.
Segundo dados não oficiais, calcula-se que haja uma minoria de dez milhões de cristãos entre os 1,1 bilhão de muçulmanos de Estados árabes e de outras nacionalidades.
Enquanto a noite de Natal passará quase despercebida para a maioria dos muçulmanos, um grande número de habitantes de Israel de origem européia festejará o fim do “ano civil” em hotéis luxuosos ou em festas particulares, atitude que foi criticada pela ortodoxia judaica, que celebra o Ano Novo hebraico em setembro.
Palestinos da comunidade cristã chegarão amanhã à Praça da Manjedoura, em Belém, depois de pedirem autorização ao Exército israelense para atravessar o “muro de segurança” construído na Cisjordânia e que, pela primeira vez, deixou isolados cristãos e muçulmanos da Cisjordânia dos seus santuários em Jerusalém.
Desde o século XIX, devido às crises econômicas e religiosas, e também por causa da ocupação israelense após a guerra de 1967, a “Cidade da Natividade” perdeu milhares de moradores cristãos, dos quais muitos vivem hoje na América Latina.
Por Elías Zaldívar – Jerusalém
Fonte: Último Segundo