Uma das alegações mais comuns quando se menciona Maria Madalena é que a mulher contemporânea de Jesus era uma prostituta. No entanto, uma pesquisa profunda divulgada recentemente aponta o oposto: trata-se de uma mulher rica e influente na sociedade de seu tempo.
A pesquisadora Jennifer Ristine descreveu Maria Madalena como “uma mulher rica, influente e crucial” na vida de Jesus em seu livro Mary Magdalene: Insights From Ancient Magdala (“Maria Madalena: Percepções da antiga Magdala”, em tradução livre), lançado em julho último.
A obra é resultado de uma pesquisa desenvolvida com o intuito de revelar os mistérios da mulher que a Igreja Católica descreveu, ao longo de séculos, como adúltera e prostituta.
De acordo com o jornal El País, o trabalho de Jennifer Ristine cruzou informações de descobertas de arqueólogos na cidade de Magdala (atual Migdal, em Israel), com referências bíblicas. Assim, a pesquisadora construiu o perfil da personagem bíblica feminina mais controversa do Novo Testamento.
“Durante os tempos de Maria Madalena, Magdala já era um povoado próspero na indústria pesqueira”, pontuou Jennifer Ristine, diretora do Instituto Madalena.
As primeiras escavações na região foram feitas nos anos 1970, porém somente em 2009 o grupo Legionários de Cristo comprou um terreno na região e descobriu “a parte norte do povoado de Magdala”.
“Encontraram uma sinagoga do século I, uma representação do templo de Jerusalém em pedra [a pedra de Magdala], banhos de purificação ritual, residências e um porto”, explicou Jennifer.
Prostituta?
De acordo com a pesquisadora, houve “muitas más interpretações sobre a vida de Maria Madalena”, que não são corroboradas pelos achados arqueológicos da cidade bíblica de Magdala, que hoje tornou-se um sítio arqueológico com mais de dois mil anos de antiguidade.
O que se descobriu até agora sugere que se a cidade era um enclave rico. Jennifer, então, integrou esse contexto às referências bíblicas, e deduziu que Maria Madalena era “uma mulher rica, de um povoado economicamente bem posicionado”, e não necessariamente uma prostituta.
Um dos versículos usados como embasamento dessa conclusão é a passagem de Lucas 8:1-3: “Depois disso, Jesus andava pelas cidades e aldeias anunciando a boa nova do Reino de Deus. Os doze estavam com ele, como também algumas mulheres que tinham sido livradas de espíritos malignos e curadas de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios; Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes; Susana e muitas outras, que o assistiram com as suas posses”.
A ideia de que Maria Madalena era uma prostituta nasceu de uma conclusão do papa Gregório Magno, no ano 591, quando durante uma homilia afirmou que “Aquela a quem o evangelista Lucas chama de mulher pecadora é a Maria da qual são expulsos os sete demônios”, acrescentando a pergunta: “E o que significam esses sete demônios senão todos os vícios?”.
Antes de Magno, no entanto, alguns autores a associaram a uma mulher mencionada no século II no Talmud, chamada Miriam Megaddlela, que significa “Maria de cabelo trançado”, segundo a pesquisa. “Na comunidade judaica, esse título era adjudicado a uma mulher de má reputação, uma adúltera ou uma prostituta”, explicou Jennifer.
“Maria Madalena foi uma mulher influente tanto econômica como socialmente; economicamente porque era uma mulher acomodada, e socialmente porque, apesar de crescer e viver numa sociedade religiosa estrita, decide romper esquemas e seguir Jesus”, resumiu a pesquisadora, descrevendo a mulher de Magdala como “um modelo de liderança para as mulheres”.