Marina Silva começa a colher o que plantou na campanha. Ela cresce nas pesquisas e quebra a polarização da disputa política brasileira.
A candidatura da senadora Marina Silva entra na última semana de campanha colhendo um resultado que estava represado.
As pesquisas mostram que em uma semana ela angariou 2,6 milhões de votos. Segundo pesquisa Datafolha divulgada na quarta-feira 22, a candidata do PV subiu de 11% para 13% nas intenções de votos.
A preferência por Marina cresceu principalmente entre os eleitores que têm curso superior e os de ensino médio com renda intermediária, que ganham acima de dois salários mínimos. Exatamente o grupo de maior peso na composição do eleitorado. Ela empolga porque trouxe para o centro do debate um tema que está em voga e galvaniza a atenção: o da sustentabilidade. Entre os eleitores que ganham entre cinco e dez salários mínimos, por exemplo, ela subiu de 16% para 24%. Marina começa a colher agora o que plantou durante a campanha. Qualquer que seja a voz das urnas, a ex-ministra do Meio Ambiente sairá desta eleição maior do que entrou. Fez uma campanha propositiva e não entrou em bate-bocas eleitoreiros. “A Marina deve ultrapassar a votação do Ciro Gomes em 1998, que teve 11,4% dos votos”, prevê o sociólogo Antonio Lavareda. “Ela está se credenciando para ser um dos nomes fortes nas próximas disputas presidenciais.”
Marina cresceu principalmente nas capitais. No Rio de Janeiro, o percentual de eleitores que declaram voto na candidata subiu cinco pontos, passando para 22%, um impressionante empate técnico com o candidato José Serra (PSDB), que tem 23%. No Distrito Federal, Marina também ganhou cinco pontos e atingiu 26% do eleitorado, ultrapassando Serra em três pontos percentuais. Ela também vence Serra no Estado do Amazonas, onde já conseguiu 18% da intenção de votos, contra 11% do candidato tucano. Marina comprova assim que sua plataforma atende ao interesse de muitos eleitores.
Marina tem superado difíceis obstáculos. Além de um partido pequeno, com pouco tempo no rádio e na televisão, ela depara-se com problemas como falta de apoio dos aliados, candidatos estaduais que não conseguem emplacar nas pesquisas e até dificuldades de distribuição de material de campanha, que não chega a muitos municípios. O PV já sabia de tudo isso antes da campanha, mas mesmo assim acreditou no potencial da senadora. Em julho do ano passado, um mês antes da filiação de Marina, a legenda encomendou a Lavareda um estudo sobre a viabilidade eleitoral da futura candidata. Esse estudo mostrou que Marina teria, na pior das hipóteses, 10% dos votos e, no melhor dos cenários, 20%. “Naquela época sugeri que ela fizesse coligações para aumentar o tempo de tevê e rádio e ampliasse o discurso, para não ficar monotemático”, revelou Lavareda. “A primeira sugestão, não tiveram condição de adotar. A segunda, adotaram razoavelmente.”
Não fosse a falta de apoio dentro da própria legenda, Marina poderia ter deslanchado ainda mais nas pesquisas. Sem conseguir fechar uma coligação nacional com um partido forte, o PV optou por alianças regionais que só trazem dificuldades à campanha. O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), candidato ao governo do Rio, pede votos para a senadora no horário eleitoral gratuito. Mas também mostra em seu programa de tevê o candidato José Serra (PSDB), que faz parte da coligação. Isso tem confundido a cabeça do eleitor. Em seu site, Gabeira nem sequer exibe a foto de Marina. Prefere mostrar imagens da violência no Rio. Candidato ao Senado, Alfredo Syrkis, presidente do PV do Rio, quer que o seu partido aproveite melhor a campanha na tevê nesses últimos dias. “Não fizemos o uso ideal do pouco tempo que tínhamos na tevê. O programa foi dispersivo, não teve foco”, diz Syrkis.
Marina pode crescer no Nordeste, mas lá quase todos os aliados do PV estão com Dilma Rousseff. No Maranhão, o deputado Sarney Filho (PV), ex-ministro do Meio Ambiente, está pedindo votos para a coligação da irmã, a governadora Roseana Sarney, que disputa a reeleição pelo PMDB. Na carta que enviou aos maranhenses, em vez de apoiar Marina, o deputado elogia os programas de Lula, como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida. “A Roseana pediu que ninguém falasse de outro candidato. Quando estou no palanque dela, não peço votos para Marina. Só peço quando estou sozinho”, disse Sarney Filho à ISTOÉ. “Aqui no Maranhão, ninguém fala mal do Lula. A Dilma tem uns 75% dos votos.”
Apesar do crescimento de Marina nas pesquisas, as finanças do PV estão bem abaixo do planejado. O partido, que programou arrecadar R$ 90 milhões ao longo de toda a campanha, tinha obtido R$ 20 milhões na semana passada, segundo a coordenação. Como todos os outros partidos, o PV sofreu com a burocracia no sistema de arrecadação pela internet. Até a quarta-feira 22, a campanha tinha arrecadado apenas R$ 130 mil pela web.
Em busca dos votos dos indecisos de última hora, Marina vai concentrar seus esforços nas regiões Sul e Sudeste. “É onde tem mais eleitor”, explica João Paulo Capobianco, coordenador de campanha do PV. A tática de Marina é se confirmar como a melhor opção entre o eleitorado jovem. “Peço que cada criança e cada adolescente converse em suas casas e mostre à família a minha plataforma de governo”, diz Marina. Outra estratégia é insistir em levar a eleição para o segundo turno, para que os candidatos tenham tempo de expor melhor seus programas de governo. A ideia dos verdes é mostrar ao eleitor que as propostas de Dilma e Serra são semelhantes e Marina é a única que tem compromisso com o desenvolvimento sustentável. Ou seja, a única que, de fato, olha para o futuro.
Fonte: Revista Isto É / Gospel+
Via: Folha Gospel