Durante a visita do Papa, jornais alemães comentam o crescimento das igrejas evangélicas no Brasil e analisam como a Igreja Católica, depois de perder bonde da história, tenta entrar na ‘concorrência das religiões’.
Um dos principais assuntos nas notícias veiculadas pela imprensa alemã sobre a visita de Bento 16 ao Brasil foi a presença e o crescimento dos evangélicos no país, “para onde fluem cada vez mais fiéis”, segundo o semanário Die Zeit. O jornal lembra que entre os mais de um bilhão de católicos do mundo, a metade vive na América do Sul.
“Três milhões entre estes deixam, no momento, a velha crença, passando a fazer parte de seitas e, acima de tudo, de paróquias pentecostais. As pessoas fugiram para as cidades. Roma e seus bispos, porém, deixaram a igreja no povoado do interior. Eles pregaram contra o controle de natalidade e enalteceram um grande número de filhos. A tarefa de tirar essas crianças das sarjetas das grandes cidades, porém, eles deixaram nas mãos das organizações filantrópicas da Igreja, cujo idealismo não conseguiu competir com a força comercial das seitas”, reflete o jornal, que entende por seita, as igrejas evangélicas.
Templos de mármore
O fenômeno do crescimento das igrejas evangélicas, observado já há várias décadas no país, parece ter sido somente agora “descoberto” pelos jornais alemães, que dedicaram, por vezes, artigos de página inteira ao assunto, descrevendo detalhadamente o comportamento dos fiéis nestas igrejas e seus templos de mármore, que mais parecem “modernos centros de congressos, com capacidade para quase dez mil pessoas”, segundo o Frankfurter Rundschau em reportagem sobre um templo da Igreja Universal do Reino de Deus, “num bairro simples do rio de Janeiro”.
Em texto intitulado “Nós somos o original”, o diário Süddeutsche Zeitung, de Munique, comentou que “o Papa posiciona o Brasil e sua Igreja na batalha da concorrência entre as religiões”. O autor do artigo observa a peculiaridade do país, onde o choque não se dá entre as grandes religiões como o cristianismo, islã ou budismo, mas entre variações cristãs. “A Igreja Católica perdeu milhões de membros às recém-criadas igrejas pentecostais. Apoiadas principalmente pelos EUA, elas representam um cristianismo voltado para a interpretação literal da bíblia”, analisa o jornal.
Estado desolado
No texto “Catolicismo Estranho”, o diário Frankfurter Allgemeine Zeitung comenta a evasão de fiéis e “o estado desolado da Igreja Católica no Brasil, observado em São Paulo, a metrópole mais rica do país”, onde as seitas evangélicas crescem assustadoramente. “Enquanto os novos cristãos brasileiros recebem um bom apoio, a concorrência parece não ter sido desencadeada entre os católicos”, conclui o jornal.
Até mesmo o Financial Times Deutschland ocupou-se do assunto, citando declarações do cardeal alemão Walter Kasper sobre a situação no país. “Esses pentecostais nos dão muita preocupação no Brasil”. O jornal cita a “densa rede social”, oferecida por estas igrejas, mas financiada às custas de “contribuições consideráveis de seus membros”.
Copiando a concorrência
Já a revista Der Spiegel e o jornal Die Welt voltaram os olhos para as artimanhas desenvolvidas pela Igreja Católica para concorrer com os evangélicos. A Igreja Católica no Brasil “entende de dramaturgia: a bateria foi interrompida. Embaixo, a massa sussurra uma melodia e balança os braços levantados de um lado para outro. Marcelo Rossi mantém os olhos fechados e murmura uma oração no microfone. Discretamente, ele dá um sinal para a banda. A percussão dispara e a massa começa a gritar o refrão”, descreve o autor do artigo Padre pop star entusiasma as massas no Brasil, publicado pelo Die Welt.
A “receita de Rossi”, afirma o Der Spiegel, “é a única que pode dar certo. E isso Bento também sabe”. Do ponto de vista europeu, contudo, analisa o semanário, trata-se de “um jogo peculiar, no qual este homem de 80 anos, de Markt am Inn, se envolveu. O Papa tenta equilibrar-se entre o Benedetto e o Bento, entre o teólogo intelectual, que, de preferência, reza a missa em latim, e o carismático no rastro de seu antecessor. Um pouco de espetáculo, ele aprendeu com João Paulo 2º, é necessário, se a missão católica quiser ter sucesso”.
Fonte: DW.World.de
Via: O Verbo