Matéria do periódico francês “Le Monde” publicada no último dia 12 de dezembro destaca que o Iraque que está perdendo sua minoria cristã. Segundo religiosos iraquianos, uma das mais antigas “cristandades” no mundo, nascida na Mesopotâmia seis séculos antes da chegada do Islã, está prestes a desaparecer. O país não contaria mais do que 400 mil cristãos, ou seja, uma queda de mais da metade desde a 1ª guerra do Golfo (1991).
Bispos iraquianos, sírios, jordanianos, egípcios debateram esta preocupação em Paris, por ocasião de encontros que foram organizados em novembro pelo Instituto Europeu das Ciências da Religião (IESR) e pela Obra do Oriente.
As Igrejas da França, o movimento internacional Pax Christi, além de associações (como a Cristãos no Mediterrâneo), estão preparando uma campanha de solidariedade que deverá alcançar o seu auge em 2008, na época da Páscoa.
Seqüestros, ameaças de morte, espoliações de casas: Dom Georges Casmoussa, o arcebispo siríaco de Mosul, dá conta das pressões “insuportáveis” com o objetivo de forçar a partida da população cristã.
“Centenas de famílias, de médicos, de engenheiros, de homens de negócios, de comerciantes continuam se refugiando em regiões mais seguras, nas aldeias cristãs do Curdistão, ou no exterior”, explica ele à reportagem.
Ameaças, atentados e seqüestros
Segundo o arcebispo de Mossul, a pressão dos militantes islâmicos não pára de aumentar: ela toma várias formas, que vão desde ameaças por telefone até seqüestros, de líderes religiosos em particular. Vários ônibus que conduziam estudantes cristãos para a universidade de Mossul foram atacados.
Outros testemunhos parecidos dão conta de “profanações” de igrejas e de seqüestros ocorridos no bairro de Dora, em Bagdá, onde, segundo Dom Jean-Benjamin Sleiman, o arcebispo latino da cidade, “os cristãos só podem escolher entre a “dhimmitude” (proteção contra submissão) e o exílio”.
Segundo ele, “o Estado reconstituído ainda não está em condição de governar a sociedade, nem de arbitrar nela todos os conflitos”.
Refugiados cristãos vivem sem perspectiva
Entre 1,2 e 1,5 milhão de iraquianos – dos quais pelo menos 100 mil cristãos – se refugiaram na Síria. Mas o “país irmão” está endurecendo a sua atitude. Ele fechou as suas fronteiras, enquanto a maioria dos refugiados que se encontram no país vive de pequenos golpes.
“Muitos deles não possuem um alojamento, nem mesmo uma licença para trabalhar. As crianças não estão sendo escolarizadas, porque elas não são portadoras de uma autorização para permanecer no território”, testemunha Dom Antoine Audo, um bispo caldeu de Alep.
“Os refugiados não têm nenhuma perspectiva. Eles não têm nenhuma esperança de poder retornar ao Iraque e enfrentam enormes dificuldades para obterem vistos que lhes permitam emigrar para os Estados Unidos ou a Europa”.
Por sua vez, a Jordânia conta 750 mil refugiados, dos quais 25 mil a 30 mil cristãos. Neste país, as possibilidades de acesso e de permanência vêm se tornando restritas, enquanto as condições de vida estão ficando cada vez mais precárias.
“A desesperança é grande”, assegura Dom Selim Sayeh, o vicário do patriarca latino em Amã. “Para esta emigração sem esperança de retorno, a Jordânia não passa de um país de trânsito. Poucos são os iraquianos que nele se estabelecem. A sua única esperança é de emigrar para lugares mais distantes”.
Cristãos não se sentem mais em casa
Para eles, as evoluções políticas não estão anunciando nada positivo. “No Iraque, os cristãos se sentem cada vez menos em sua casa”, garante Dom Casmoussa, o arcebispo de Mossul.
“O futuro do novo Iraque parece estar prometido apenas para as três comunidades majoritárias curda, sunita e xiita, e nós acabamos ficando relegados”. Alguns partidos políticos confessionais cristãos, chamados “caldeu”, “assírio”, “siríaco”, foram fundados.
Eles disputam com a hierarquia episcopal, até então o seu único porta-voz, o controle da minoria cristã. “A questão étnica e racial é atualmente a mais difícil de solucionar no Iraque”, comenta Dom Casmoussa.
“É sobre esta base que todas as comunidades, inclusive as cristãs, tentam desempenhar um papel no tabuleiro político, com o objetivo de obter o direito a uma cidadania igualitária”.
Mas o resultado disso é que “os cristãos ficaram desunidos, minimizados, sub-representados nas esferas de decisão”. “Eles não puderam exercer nenhuma influência para a redação da Constituição”.
Fonte: Portas Abertas